O melhor filme da Netflix em 2024, até agora, também está entre os mais assistidos do ano em 93 países Divulgação / Netflix

O melhor filme da Netflix em 2024, até agora, também está entre os mais assistidos do ano em 93 países

“Rebel Ridge” é um filme que não faz questão de disfarçar sua falta de sutileza, e isso se revela como um dos maiores trunfos do novo trabalho de Jeremy Saulnier. O cineasta, já conhecido por manipular habilmente as emoções mais primitivas do espectador, não hesita em conduzi-lo por uma trama carregada de tensão, que se estende até o último momento sem muita preocupação em seguir uma lógica previsível. 

O filme brinca com as expectativas de quem assiste, prendendo-o a cada reviravolta, sem oferecer qualquer alívio ou oportunidade de fuga. À primeira vista, a premissa de Saulnier pode parecer corriqueira: um homem negro é vítima de uma atuação policial injusta e degradante. No entanto, é a maneira com que o diretor explora a história desse homem — um ex-fuzileiro naval marcado pela guerra no Iraque, sereno e meticuloso, mas sem disposição para tolerar injustiças — que eleva o enredo a outro nível de originalidade. Rapidamente, fica claro que este filme está longe de ser uma narrativa convencional.

Histórias poderosas frequentemente se distanciam da necessidade de seguir padrões estabelecidos, o que pode representar um risco. Quando as surpresas são tantas, há o perigo de a trama se desviar de tal forma que o público perca o interesse, sentindo-se desconectado da narrativa. No entanto, “Rebel Ridge” consegue evitar esse tropeço. A jornada de Terry Richmond começa de maneira brutal: enquanto anda de bicicleta, ele é atropelado por dois policiais brancos que, além de apreenderem trinta mil dólares que ele usaria para pagar a fiança de seu primo, submetem-no a um interrogatório vexatório, enquanto permanece algemado. Após quase ser enviado à prisão injustamente, Terry embarca em uma missão quase kafkiana para limpar seu nome e recuperar o dinheiro perdido.

Embora o filme não traga exatamente novas abordagens às discussões legais, Saulnier mergulha cuidadosamente em temas que já foram explorados de maneira mais detalhada por produções como o documentário “A 13ª Emenda” (2016), de Ava DuVernay. O trabalho de DuVernay, por exemplo, desmembra, com uma didática notável, as falhas sistemáticas do sistema jurídico americano, que parece ter sido projetado para perseguir e incriminar cidadãos negros. Essa mesma sensação de uma justiça propositalmente falha é reforçada ao longo do segundo ato de “Rebel Ridge”. O protagonista, vivido de maneira cativante e carregada de emoções contidas por Aaron Pierre, enfrenta o impiedoso xerife Sandy Burnne, interpretado por Don Johnson. Ao lado de Summer McBride, uma jovem estagiária que, diferentemente de seus colegas, enxerga valor na luta de Terry, eles formam uma parceria improvável que sustenta boa parte da narrativa, enquanto o diretor explora a determinação de seu anti-herói. O filme não se perde em clichês românticos, optando por focar em uma conclusão que desafia as expectativas. A tensão culmina em um desfecho surpreendente, onde fica claro que mexer com um homem controlado, mas ciente de sua capacidade de usar a força quando necessário, é sempre um risco calculado, mas perigoso.


Filme: Rebel Ridge
Direção: Jeremy Saulnier
Ano: 2024
Gêneros: Thriller/Ação
Nota: 8/10