Último dia para assistir na Netflix: a história de amor vista por 551 milhões de pessoas desde o lançamento Divulgação / The Weinstein Company

Último dia para assistir na Netflix: a história de amor vista por 551 milhões de pessoas desde o lançamento

Contar uma história que tenta a todo custo provocar uma mensagem de otimismo, mesmo frente a temas difíceis, é uma tarefa delicada. Nem sempre é fácil alcançar o equilíbrio entre diversão e reflexão. “O Lado Bom da Vida” consegue evitar a armadilha de conquistar o público de forma superficial, usando protagonistas com carisma inegável e cujas carreiras, tanto artística quanto financeiramente, estão em constante ascensão. Trata-se de um romance não convencional, que surge como um verdadeiro diferencial em um cenário saturado de produções românticas pouco memoráveis.

Sob a direção inspirada de David O. Russell, dois dos nomes mais jovens e atraentes de Hollywood são inseridos em papéis de indivíduos psiquicamente desajustados, com problemas mentais suficientemente graves para despertar desconforto. A trama desenvolve-se através de uma cuidadosa desconstrução das camadas da doença mental que os aflige, mostrando como, em meio à desordem emocional, é possível encontrar beleza e significado. A estreia no Brasil trouxe um Bradley Cooper totalmente reinventado, destoando de suas aparições anteriores na TV e cinema, e oferecendo um de seus papéis mais sólidos. Como Pat, ele desempenha uma figura que parece estar em busca de algo além da sua própria redenção.

Russell sabia que tratar de um homem em colapso mental, após pegar sua esposa com outro, seria uma decisão arriscada. Mesmo que a agressão ao amante não seja explicitamente mostrada, a simples sugestão já carrega um peso significativo. O protagonista é internado, perde seu emprego e, ironicamente, continua preso ao amor por sua ex-mulher. Condenado a viver com os pais, Pat enfrenta uma realidade nova e dolorosa. Sua mãe, interpretada com habilidade por Jacki Weaver, contracena com um Robert De Niro que, embora sempre memorável, oferece aqui um desempenho aquém do esperado, ainda mais quando comparado à atuação de Weaver.

O primeiro grande ponto de virada da narrativa é marcado pela entrada de Jennifer Lawrence, cujo personagem, Tiffany, carrega sua própria bagagem emocional. Após a perda traumática do marido, ela reage com comportamentos autodestrutivos, o que a coloca em um caminho cruzado com o de Pat. Ao serem apresentados em um jantar de família, os dois imediatamente desenvolvem uma conexão. A atração entre eles é inevitável, mas nada tradicional, refletindo suas personalidades únicas e fragmentadas.

O jogo entre vilões e mocinhos que ambos os personagens representam é o cerne da história. O filme derruba expectativas e desafia convenções, ao mesmo tempo em que explora as complexidades de seus protagonistas. Pat é retratado como um homem que, por um lado, reage instintivamente à traição da esposa, enquanto Tiffany lida com suas próprias falhas através da promiscuidade. Em ambos os casos, suas escolhas levam a consequências que os isolam socialmente. Eles são, em essência, dois indivíduos perdidos, buscando algum tipo de redenção em um mundo que parece ter virado as costas para eles.

À medida que a relação entre Pat e Tiffany se desenvolve, eles percebem o quanto têm em comum, além das diferenças que os afastam. Pat, apesar de tudo, ainda se agarra à esperança de reconquistar sua ex-esposa, e vê em Tiffany uma possível aliada nesse esforço. A troca de cartas e a proposta de participar de um concurso de dança proporcionam ao filme seus momentos mais memoráveis. A química entre Cooper e Lawrence, evidente desde suas primeiras cenas juntos, é um dos pontos altos da produção, oferecendo interpretações profundas e envolventes, especialmente na sequência da apresentação final de dança.

Por fim, “O Lado Bom da Vida” vai além de ser um simples palco para duas grandes estrelas. Não há guerra de egos aqui; ao contrário, o roteiro e a direção de Russell criam um ambiente em que todos os elementos trabalham em perfeita harmonia. A história de Pat e Tiffany fala, acima de tudo, sobre reconstrução — de vidas, de afetos e de sonhos — de uma forma que deixa claro ao espectador que, por mais improvável que pareça, a redenção está sempre ao alcance, mesmo nos cenários mais desolados.


Filme: O Lado Bom da Vida
Direção: David O. Russell
Ano: 2012
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 10/10