“Too Old to Die Young” é uma produção que encapsula a essência única de Nicolas Winding Refn, um cineasta dinamarquês reconhecido por seu estilo peculiar e altamente estético. Para aqueles familiarizados com suas obras, como “Drive”, “Só Deus Perdoa”, “Demônio de Neon” e a trilogia “Pusher”, sua nova série, disponível no Amazon Prime Video, é uma verdadeira obra-prima. Refn não busca agradar a grandes públicos ou criar entretenimento de fácil consumo; ao contrário, ele é um mestre em criar atmosferas visuais complexas e profundamente significativas, onde cada detalhe da fotografia, iluminação e direção de arte tem um papel fundamental.
Em “Too Old to Die Young”, Refn expande ainda mais sua abordagem estética. A série, que se assemelha mais a um longo filme dividido em dez episódios, totalizando cerca de 13 horas de conteúdo, é marcada por um ritmo deliberadamente lento e cenas carregadas de simbolismo. Diferente de produções tradicionais, a série não se preocupa em prender o espectador pela narrativa acelerada ou diálogos constantes. O foco está no visual, nas nuances dos movimentos de câmera e na construção cuidadosa de cada cena. É um projeto cinematográfico que exige atenção completa, como uma imersão em uma galeria de arte.
A série apresenta Miles Teller no papel de Martin, um policial de Los Angeles que, após a morte de seu parceiro, entra em uma espiral de violência e busca por vingança. O personagem de Martin não é um herói tradicional; ele é moralmente ambíguo, mantendo uma relação problemática com uma adolescente e envolvido em atividades corruptas. Refn explora essa ambiguidade com precisão, oferecendo ao público um protagonista que muitas vezes desafia nossas noções convencionais de certo e errado. Teller, conhecido por seu trabalho em “Whiplash”, entrega uma performance sutil e introspectiva, adequada ao tom da série.
No entanto, Martin não é o único personagem complexo na trama. Paralelamente, somos apresentados a Jesus, um jovem mexicano com laços profundos com o cartel de drogas local, cuja mãe foi assassinada por Martin e seu parceiro. Ao longo da série, Jesus busca vingança pela morte da mãe, criando uma tensão entre os dois personagens principais que se desenrola de forma lenta, mas inexorável. A narrativa entrelaça essas duas jornadas de vingança e redenção, utilizando diálogos minimalistas e momentos de violência gráfica para construir uma atmosfera de constante ameaça.
Além dos protagonistas, a série inclui outros personagens intrigantes, como Damien, o líder de uma gangue que, apesar de seu poder, vê em Martin uma ferramenta útil para seus próprios interesses. Essa teia de personagens e suas motivações é explorada de maneira gradual, com cada episódio revelando novas camadas de complexidade.
O que torna “Too Old to Die Young” especialmente notável é sua estética visual. Refn utiliza luzes neon, cores saturadas e enquadramentos cuidadosamente compostos para criar um universo estilizado que, ao mesmo tempo, parece fora do tempo e incrivelmente contemporâneo. O uso de iluminação, em particular, é uma assinatura de Refn, com cenas que alternam entre o brilho vívido das luzes urbanas e a escuridão opressiva de ambientes interiores. Cada frame parece ter sido concebido como uma obra de arte em si, refletindo a obsessão de Refn com a estética visual.
A série também se destaca por sua exploração de temas como a corrupção moral, a violência e o vazio existencial. Embora esses temas já tenham sido abordados em outras obras de Refn, “Too Old to Die Young” os leva a novos extremos, com uma abordagem ainda mais crua e direta. A violência, quando surge, é brutal e desprovida de glamour, um reflexo da visão pessimista de Refn sobre a humanidade.
“Too Old to Die Young” não é uma série para todos. Seu ritmo lento, somado à duração extensa dos episódios e à violência explícita, pode afastar espectadores que buscam entretenimento mais convencional. No entanto, para aqueles dispostos a se entregar à experiência visual e temática oferecida por Refn, a série representa um marco no cinema televisivo contemporâneo. É uma produção que desafia convenções, tanto narrativas quanto estéticas, e convida o espectador a refletir sobre os limites da moralidade, da arte e da própria experiência humana. A série não apenas demonstra a maestria de Refn como cineasta, mas também reafirma sua posição como um dos diretores mais inovadores e audaciosos da atualidade.
Dessa forma, “Too Old to Die Young” vai além das expectativas de uma produção tradicional, estabelecendo novos padrões para séries que priorizam o visual e a construção de atmosfera. É uma jornada cinematográfica que não se apressa, mas que, em seu ritmo, revela uma complexidade rara e um comprometimento inabalável com a arte da narrativa visual.
Série: Too Old to Die Young
Direção: Nicolas Winding Refn e Ed Brubaker
Ano: 2019
Gêneros: Crime/Drama/Suspense
Nota: 9/10