Baseado em um conceito de Martin Heidegger, filme da Netflix vai bugar seu cérebro e te fazer questionar o sentido da existência Divulgação / Sundance Institute

Baseado em um conceito de Martin Heidegger, filme da Netflix vai bugar seu cérebro e te fazer questionar o sentido da existência

Numa metrópole sem nome de um tempo indeterminado, uma mulher ascende na carreira corporativa, esforçando-se para que a filha tenha um futuro melhor que o seu. O enredo de “Advantageous” não é tão diferente de muitos filmes sobre a condição feminina, salvo por incluir na equação a inexorabilidade dos avanços da ciência, uma bênção e um flagelo a depender de quem os conduza. Numa narrativa toda pontuada por tipos femininos, a sino-americana Jennifer Phang desdobra o episódio de “Futurestates” dirigido por ela em 2012, concentrando-se na natureza distópica, fortemente imbricada a uma abordagem emocional. O texto de Phang, coescrito com a protagonista Jacqueline Kim, marca posição na autonomia da personagem central e não transige quanto a mostrá-la sempre altiva, poderosa, mas também cansada, perdida em meio a revoluções sociais que ninguém sabe ainda onde vão dar.

Gwen Koh é uma veterana na indústria farmacêutica. Aos quarenta e poucos anos, ela é representante de um certo Centro de Saúde e Vida Avançada, um laboratório de biomedicina que oferece tratamentos e cirurgias estéticas de última geração para milionários, até que, como já poder-se-ia supor, acham-na velha demais para tentar vender beleza artificial e juventude eterna. A partir desse ponto, tudo passa a orbitar ao redor da demissão de Gwen e seu desespero, não por ela, e sim pela filha — mais uma mulher no coração da trama. Ela se vira para achar alguma outra forma decente de ganhar dinheiro o quanto antes, a fim de não permitir que a garota passe qualquer dificuldade ou tenha de se submeter a condições degradantes de vida, como se prostituir ou casar-se prematuramente e a contragosto.

Numa performance que alia sensibilidade e uma acídia elegante, Jacqueline Kim vai e volta no martírio de Gwen, sozinha e sem reservas, lamentando muito mais a sorte da filha que sua desgraça repentina. Ainda que seja uma aluna brilhante, Jules, interpretada por Samantha Kim, não tem nenhuma garantia de que vá conseguir bolsa numa das caríssimas escolas preparatórias disponíveis, a única chance de alguém feito ela ter uma perspectiva de horizonte no implacável mundo dos adultos. No segundo ato, depois de aceitar submeter-se como cobaia a um experimento radical do laboratório, Gwen volta rejuvenescida na pele de Freya Adams, e sua vida, por óbvio, não é mais a mesma, nem sua essência. Emulando trabalhos a exemplo de “No Limite da Realidade” (1993), de Gary O. Bennett, e “A Decadência de uma Espécie” (1990), de Volker Schlöndorff, baseado em “O Conto da Aia”, o romance neoapocalíptico da canadense Margaret Atwood publicado em 1985, recentemente adaptado na série de mesmo nome, “Advantageous” é uma ficção científica sem pudor de levantar bandeira. Às vezes, isso é necessário.


Filme: Advantageous
Direção: Jennifer Phang
Ano: 2015
Gêneros: Ficção científica/Drama 
Nota: 8/10