Não assistir deveria ser crime: o melhor filme de ação da Netflix, e você ainda não viu Divulgação / Netflix

Não assistir deveria ser crime: o melhor filme de ação da Netflix, e você ainda não viu

O clima de intimidação e desconfiança que permeia as relações entre as potências globais se intensifica, influenciando até mesmo o cotidiano das pessoas comuns. O cinema, atento a essa realidade, explora essa temática através de narrativas que variam entre uma crítica sociopolítica incisiva e uma abordagem estética que utiliza os mais avançados recursos da computação gráfica.

“Steel Rain” não se destaca pela análise aprofundada da complexa geopolítica asiática, marcada pela tensão histórica entre as duas Coreias, que remonta à Guerra da Coreia, iniciada em 1950 e formalmente encerrada em 1953. Embora nenhum dos lados tenha sido declarado vencedor, a superioridade da Coreia do Sul se torna evidente no contexto atual, onde as agressões entre os países persistem. O Norte, por sua vez, frequentemente classifica o Sul como um vassalo dos Estados Unidos, enquanto a Coreia do Sul busca expor as condições opressivas sob o regime de Kim Jong-un, que perpetua a miséria de seu povo em nome de uma ideologia que ele mesmo parece não acreditar. O diretor Yang Woo-seok, ao adaptar sua webtoon para o cinema, apresenta um enredo que envolve um agente da inteligência norte-coreana e um assessor do presidente sul-coreano, criando uma narrativa que resgata a aversão ao comunismo, refletindo as tensões que marcaram a Guerra Fria e suas repercussões atuais, como o conflito entre Rússia e Ucrânia, que começou a se intensificar com a ascensão de Vladimir Putin.

Lançado em 2017, “Steel Rain” surge em um momento em que Donald Trump e Kim Jong-un trocavam ameaças sobre seus arsenais nucleares, servindo como pano de fundo para o roteiro de Yang Woo-seok. O filme gira em torno de dois protagonistas que, sob a interpretação de Jung Woo-sung e Kwak Do-won, mantêm um equilíbrio interessante ao longo da trama. Jung Woo-sung encarna Cheol-u, um alto oficial norte-coreano que recebe ordens de exterminar políticos considerados uma ameaça à paz, e sua jornada o leva a Kaesong, onde uma explosão altera seu destino. Esta introdução promissora é um sinal do que o filme pretende oferecer: uma narrativa de guerra que desafia convenções.

A primeira reviravolta coloca Cheol-u e Kim Jong-un em uma situação crítica após um atentado em Seul. Acompanhado por estudantes que o aplaudem, o agente se vê forçado a buscar cuidados médicos com Kwon Sook-jung, uma médica relutante, que acaba tratando os ferimentos do ditador. Com a pressão de sua função, Sook-jung acaba se tornando parte de uma trama maior, enquanto Kwak Cheol-woo, secretário de Segurança Nacional, inicia sua busca para entender e conter a situação.

O filme intercala momentos de ação com reflexões sobre as discrepâncias entre as duas Coreias, destacando a intolerância que sempre as uniu. A relação entre Cheol-u e Kwak Cheol-woo se torna um ponto focal, evidenciando as fragilidades de ambos em suas respectivas realidades. Enquanto Kwak enfrenta o distanciamento da família, Cheol-u lida com questões pessoais que o levam a um drama intenso. A habilidade de Yang Woo-seok em abordar o cotidiano dos coreanos, independentemente do lado da fronteira, permite um retrato incisivo dos desafios que cada nação enfrenta.

A edição ágil de Lee Gang-hee realça tanto as sequências de ação quanto os momentos de drama, evidenciando a qualidade técnica da cinematografia sul-coreana. “Steel Rain” se destaca ao combinar sátira sociopolítica com um toque de absurdismo, oferecendo uma perspectiva inovadora sobre as tensões que permeiam a vida no contexto das Coreias. O filme é um exemplo notável do potencial criativo da indústria cinematográfica da região, que continua a se reinventar e a desafiar expectativas.


Filme: Steel Rain
Direção: Yang Woo-seok 
Ano: 2017
Gênero: Ação/Thriller/Guerra
Nota: 9/10