O melhor filme de espionagem dos últimos anos está na Netflix e vale cada milésimo de segundo do seu tempo Frederic Batier / Netflix

O melhor filme de espionagem dos últimos anos está na Netflix e vale cada milésimo de segundo do seu tempo

Ainda que a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) tenha sido amplamente estudada, há capítulos cujos detalhes permanecem envoltos em mistério. O drama britânico “Munique: No Limite da Guerra”, baseado no livro homônimo de Robert Harris, mergulha nesses episódios desconhecidos ao acompanhar dois diplomatas, antigos amigos que agora se encontram em lados opostos do conflito. Um deles representa o Eixo, enquanto o outro, os Aliados. Sob a direção de Christian Schwochow, o filme explora a relação entre esses personagens e os desdobramentos da conferência de Munique, realizada em 1938. Essa reunião internacional tinha como objetivo principal evitar a guerra entre Alemanha e Inglaterra por meio de um acordo de paz, um esforço que, embora promissor, fracassou.

Com a elegância característica dos filmes que retratam os bastidores diplomáticos de grandes conflitos, “Munique: No Limite da Guerra” ilumina os eventos que precederam a deflagração da guerra, um conflito muito mais devastador do que o encerrado vinte anos antes. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) havia consolidado os Estados Unidos como a maior potência militar e econômica global, após sua entrada no conflito em 1917, alinhada a Inglaterra e França, garantindo a vitória da Entente. Essa aliança foi crucial para derrotar os exaustos exércitos alemão e italiano, que haviam combatido por três anos. Contudo, em 1939, Itália e Alemanha estavam prontas para vingar essa derrota, ambas lideradas por figuras tirânicas. Adolf Hitler (1889-1945), da Alemanha, e Benito Mussolini (1883-1945), da Itália, lançaram o mundo em mais seis anos de destruição. Embora o filme de Schwochow, lançado em 2021, não negligencie a brutalidade e as atrocidades cometidas pelos nazistas, há uma curiosa mensagem de esperança que permeia a narrativa.

É inegável que os tempos eram outros, com valores e realidades diferentes. No início do filme, um flashback nos leva a uma festa da juventude na Universidade de Oxford, onde três estudantes celebram com champanhe e fogos de artifício. Esse retrato de uma geração despreocupada, que ainda não enfrentava o peso da guerra, contrasta com o que viria depois. Paul von Hartmann, interpretado por Jannis Niewöhner, é um desses jovens. Ele se orgulha de sua herança alemã, um sentimento que inicialmente passa despercebido por seu amigo Hugh, vivido por George MacKay, e pela namorada deste, Lenya, interpretada por Liv Lisa Fries. No entanto, Paul, agora um funcionário do Serviço de Relações Exteriores da Alemanha, ambiciona conhecer Hitler e oferecer seus serviços ao líder nazista. Hugh, por outro lado, ocupa o cargo de secretário do ministro das Relações Exteriores britânico e está profundamente envolvido nas decisões diplomáticas do Reino Unido, incluindo as conversas com Neville Chamberlain (1869-1940), o primeiro-ministro britânico, sobre como lidar com Hitler.

As reviravoltas do filme frequentemente surpreendem, frustrando expectativas de maneira positiva. As interações entre Hugh e Chamberlain são carregadas de tensão, e a interpretação de Jeremy Irons como o primeiro-ministro britânico confere uma profundidade adicional a essas cenas. Quando Hugh tenta fornecer informações cruciais para influenciar o curso da guerra, incluindo um documento secreto sobre o futuro do conflito, o público é levado a compreender a insanidade por trás dos eventos. O encontro entre Chamberlain e Hitler, interpretado por Ulrich Matthes, é um momento central, com Mussolini e o líder francês Édouard Daladier também presentes. Apesar de seu caráter monstruoso, Hitler demonstra uma habilidade impressionante em manipular situações, tornando-se uma figura enigmática e perigosa. Já Chamberlain, cuja busca incessante pela paz a qualquer custo foi imortalizada pela crítica de Winston Churchill (1874-1965), tornou-se sinônimo de fracasso político. Ele acabou renunciando ao governo britânico em maio de 1940 e morreu de câncer seis meses depois, em 9 de novembro do mesmo ano, abrindo caminho para o retorno de Churchill.

Além de instigar o público a refletir sobre as complexas causas e consequências da guerra, “Munique: No Limite da Guerra” destaca-se por sua beleza visual e narrativa. Com um roteiro bem construído por Ben Power, o filme equilibra ação e introspecção, conduzindo a audiência através dos dilemas morais e das decisões que moldaram a história. Filmes de guerra costumam se dividir entre aqueles que enfatizam a violência dos combates e os que, como este, desafiam o espectador a antever o desfecho. É uma obra que exige envolvimento, recompensando aqueles que estão dispostos a aceitar o desafio.


Filme: Munique: No Limite da Guerra
Direção: Christian Schwochow
Ano: 2021
Gênero: Drama/Suspense/Guerra
Nota: 9/10