Thriller para maiores de 18 que foi ovacionado em Sundance e foi comprado pela Netflix por 20 milhões Sergej Radovic / Netflix

Thriller para maiores de 18 que foi ovacionado em Sundance e foi comprado pela Netflix por 20 milhões

O vídeo amplamente compartilhado online revela um trecho do programa “Profissão Repórter”, da TV Globo. Nele, o jornalista aborda um casal presente em um mutirão de serviços públicos. Ao ser questionada, a mulher relata que o marido a acordou durante a madrugada, exigindo que ela lavasse seu uniforme, que ela havia esquecido. O homem, com o rosto desfocado, rebate afirmando que não vê problemas em seu pedido, sugerindo que, se esse era o modo de a esposa enxergar a situação, o relacionamento estava fadado ao fracasso.

A posição das mulheres na sociedade, historicamente submissa a seus maridos e pais, sem qualquer tipo de reconhecimento ou remuneração, continua a ser retratada de maneira frequente. Casos como o apresentado no vídeo seguem sendo considerados normais por muitos, e o apoio nas redes sociais ao ponto de vista masculino revela o quanto essa dinâmica ainda é enraizada.

Por outro lado, “Jogo Justo”, filme que fez sua estreia no Festival de Sundance, mergulha profundamente nas complexidades dos relacionamentos contemporâneos. O longa, protagonizado por Phoebe Dynevor e Alden Ehrenreich, segue um casal jovem e ambicioso vivendo em Nova York, ambos ocupando posições no competitivo mundo das finanças. Emily, interpretada por Dynevor, é promovida a gerente, o que coloca seu noivo, Luke, em uma posição subalterna, sendo seu subordinado direto.

A partir desse ponto, a trama revela as tensões de poder que afloram no relacionamento. Emily, agora em um cargo de destaque, enfrenta desafios profissionais e pessoais. Embora desfrute de prestígio e benefícios, qualquer deslize em suas decisões pode ser motivo para críticas severas. Essa pressão é particularmente aguda para mulheres em posições de liderança, que são julgadas de maneira mais dura e constantemente submetidas a avaliações que vão além de suas competências profissionais, incluindo sua aparência e postura.

Luke, por outro lado, vê sua autoestima e masculinidade abalada pelo sucesso de Emily. Para ele, a ascensão da noiva parece uma traição pessoal, um golpe que o faz questionar seu valor. Incapaz de lidar com a nova dinâmica, ele passa a agir de forma defensiva, distante e hostil, insinuando que a promoção de Emily só foi possível graças a um suposto relacionamento dela com o chefe. Seu comportamento se torna cada vez mais corrosivo, alimentando um ciclo de ressentimento e agressividade.

Enquanto Emily tenta, em vão, reacender o romance, Luke mergulha em um estado de paranoia, incapaz de aceitar que sua parceira tenha se tornado a figura dominante no relacionamento. A inveja e o fracasso pessoal de Luke transformam o filme em uma tensa narrativa de suspense psicológico, expondo as fragilidades e as dinâmicas tóxicas que emergem quando o equilíbrio de poder dentro de um casal é perturbado.

A diretora e roteirista Chloe Domont conduz “Jogo Justo” com maestria, construindo uma atmosfera de crescente tensão emocional e violência psicológica. O filme revela como a insegurança masculina pode envenenar até mesmo os relacionamentos mais promissores, oferecendo uma reflexão poderosa sobre os desafios que as mulheres enfrentam em suas jornadas de sucesso profissional, especialmente quando isso perturba as expectativas de papéis tradicionais de gênero.

“Jogo Justo” é uma obra que mantém o público à beira do assento, com performances intensas e uma narrativa que ressoa profundamente em um mundo onde os papéis de poder continuam a ser redefinidos.


Filme: Jogo Justo
Direção: Chloe Domont
Ano: 2023
Gênero: Suspense/Drama/Mistério
Nota: 8/10