Suspense na Netflix com Tom Hanks entrega 130 dos minutos mais intensos da história do cinema Divulgação / Columbia Pictures

Suspense na Netflix com Tom Hanks entrega 130 dos minutos mais intensos da história do cinema

Paul Greengrass se destaca por sua habilidade em criar docudramas que envolvem o espectador, e “Capitão Phillips” é um de seus exemplos mais notáveis. Com técnicas como o uso de câmera na mão e cenas noturnas sem tratamento, ele constrói uma atmosfera que aproxima a obra de uma experiência documental. O elenco, composto em grande parte por atores não profissionais, contribui para o clima de tensão que permeia o longa, trazendo uma realidade crua e visceral que desafia o público a manter a atenção.

No cerne da trama, está o comandante do navio cargueiro MV Maersk Alabama, cuja jornada toma um rumo sombrio quando ele percebe que está sendo alvo de piratas somalis. A partir do momento em que a ameaça se materializa, o filme se transforma em um thriller de alta tensão, com Phillips tentando contornar o inevitável. Greengrass, experiente em narrativas de tragédias iminentes, conduz a trama com maestria, oferecendo uma sucessão de eventos inesperados que prendem o espectador. Em poucos minutos de projeção, a ação já está em pleno vapor, com uma narrativa que não deixa espaço para o respiro.

À medida que a história avança, a relação entre Phillips e o líder dos piratas, Muse, se torna o eixo central do drama. Mesmo sob ameaça, o capitão nunca deixa de tentar subverter o domínio dos criminosos. O jogo psicológico entre eles é palpável e, embora o filme não tenha como foco a vida dos piratas, Greengrass oferece uma breve reflexão sobre o contexto social que os impulsiona. Vítimas de um país destroçado pela guerra e miséria, os piratas, embora criminosos, são figuras que despertam, por vezes, empatia.

O segundo ato da obra é onde o diretor aprofunda a complexidade dos personagens, especialmente Muse, interpretado pelo somali Barkhad Abdi, cuja atuação é marcada pela autenticidade. O contraste entre ele e Tom Hanks cria um equilíbrio poderoso, com ambos os atores elevando a trama a níveis de tensão e emoção inesperados. O trabalho de Hanks, que já brilhou em papéis icônicos como os de “Apollo 13”, “O Resgate do Soldado Ryan” e “O Náufrago”, atinge aqui um novo patamar, refletindo sua versatilidade. A interação entre Hanks e Abdi é um dos pilares que sustenta o filme até o clímax, tornando-o uma das mais impressionantes produções de Greengrass.

Logo no início, há um momento que destoa do resto: a cena em que Phillips é levado ao aeroporto pela esposa, interpretada por Catherine Keener, parece um tanto forçada. Contudo, é compreensível que Greengrass tenha optado por essa abordagem para humanizar o capitão antes de mergulhar na tensão crescente que tomará conta do filme. O desenvolvimento do personagem ao longo da narrativa, especialmente em sua relação com a tripulação e com os piratas, dispensa essas caracterizações iniciais, mas ainda assim, acrescenta uma camada ao retrato do herói cotidiano.

A condução do enredo atinge seu ápice quando os piratas capturam Phillips, enquanto a tripulação é liberada. A partir daí, o filme se transforma em um jogo de sobrevivência, com o capitão lutando para manter a calma e encontrar uma saída. Mesmo quando tudo parece perdido, a tensão persiste, até que finalmente o desenlace se aproxima. O que se segue é uma combinação de desespero e esperança, um duelo entre a astúcia de Phillips e a obstinação dos piratas. No entanto, não há heróis incontestáveis aqui, apenas sobreviventes de circunstâncias extremas.


Filme: Capitão Phillips
Direção: Paul Greengrass
Ano: 2013
Gênero: Thriller/Ação
Nota: 10/10