Suspense hipnotizante na Netflix vai abalar suas emoções profundamente

Suspense hipnotizante na Netflix vai abalar suas emoções profundamente

Tom Ford fez sua entrada no mundo do cinema de forma marcante. Conhecido como um dos estilistas mais bem-sucedidos no universo da moda, Ford rapidamente aprendeu a dominar os elementos essenciais para criar um bom filme. Em 2009, ele fez sua estreia com “Direito de Amar”, uma narrativa centrada em um professor universitário que segue uma rotina meticulosa todos os dias, enquanto luta internamente com o desejo de tirar a própria vida após a perda de seu parceiro. O filme foi um sucesso global, não apenas pelo fato de Ford ser um homem de grande fortuna que usou seus recursos para enaltecer a trama com requintes estéticos, como figurinos impecáveis, mas também pela profundidade emocional da história. O longa foi premiado como Melhor Filme pelo AFI (Instituto Americano de Cinema), solidificando a entrada de Ford no restrito círculo dos diretores americanos. O estilista transformado em cineasta tomou gosto pela nova empreitada e, sete anos depois, lançou “Animais Noturnos”, um filme que veio com o mesmo nível de sofisticação e elegância, superando as expectativas tanto da crítica quanto do público.

Tentar categorizar “Animais Noturnos” em poucas palavras é um desafio. O filme não se enquadra facilmente como excelente ou ruim; no entanto, é inegavelmente uma das produções mais intrigantes de seu tempo, emergindo quase inteiramente da mente criativa de Ford. Diferente de seu trabalho anterior, onde alguns poderiam argumentar que Ford foi mais um patrocinador de talentos do que um diretor de fato, contando com a ajuda de roteiristas e aspirantes a cineastas, “Animais Noturnos” exala a sensibilidade artística e a visão pessoal de Ford. O filme vai além de ser apenas mais um projeto de um diretor em busca de identidade e se estabelece como uma obra de arte em si. No entanto, o longa começa a perder sua força quando Ford decide que contar uma boa história não é suficiente e passa a incorporar mensagens políticas, transformando o filme em uma sequência de manifestos que, infelizmente, diluem seu impacto.

A sequência de abertura de “Animais Noturnos” já provoca reações extremas. Corpos femininos nus, desafiando os padrões estabelecidos pela publicidade e pela moda, são exibidos de maneira que escandaliza alguns. Isso é especialmente curioso vindo de Ford, que construiu sua carreira e fortuna desenhando roupas para mulheres magras, típicas das passarelas. As mulheres curvilíneas da cena inicial, adornadas com bandeiras e pompons, são capturadas em câmera lenta, como se Ford quisesse prolongar o desconforto dos espectadores que aguardam o desenrolar da trama. À medida que o filme avança, fica claro que essa escolha narrativa serve a um propósito dentro da história, revelando aspectos de uma personagem em particular e oferecendo uma visão mais profunda sobre as intenções do diretor com essa provocação visual.

Essas figuras inusitadas fazem parte de uma exposição de arte conceitual organizada por Susan, a protagonista vivida por Amy Adams. Susan é uma galerista renomada no circuito alternativo de Los Angeles, e seu estilo de vida excêntrico reflete o mundo em que vive, rodeada por pessoas igualmente extravagantes. Seu casamento com Hutton, interpretado por Armie Hammer, é uma união em ruínas, mantida apenas pelas aparências e pelo medo de perder seu status social. A chegada de um manuscrito de Edward Sheffield, seu primeiro marido, interpretado por Jake Gyllenhaal, a abala profundamente. O livro inédito que ele lhe envia faz com que Susan questione suas escolhas e reflita sobre a irreversibilidade de certos caminhos na vida. Esse momento de introspecção não é acompanhado por uma resposta clara ou reconfortante, deixando Susan imersa em dúvidas.

A partir desse ponto, o filme adota um tom onírico, apresentando uma narrativa paralela que acompanha Tony Hastings, também interpretado por Gyllenhaal. Tony é um homem refinado que viaja pelo Texas com sua esposa, Laura, vivida por Isla Fisher, e sua filha adolescente. A viagem toma um rumo inesperado quando o carro da família é interceptado por Ray, interpretado por Aaron Taylor-Johnson, em uma sequência tensa e inquietante que culmina em um dos momentos mais marcantes do filme. Essa trama, que pode ser interpretada como uma projeção da mente de Susan, serve para explorar as questões não resolvidas entre ela e Edward, trazendo à tona sentimentos reprimidos e conflitos mal resolvidos.

Enquanto o enredo alterna entre a história de Susan e a de Tony, Ford habilmente tece discussões sobre o valor da arte e a maneira como as emoções humanas moldam o processo criativo. Ele examina o conceito de beleza e estética, questionando o que realmente define a arte. A reflexão vai além das questões superficiais, incitando o público a ponderar sobre a função da arte em si. No final das contas, a resposta que Ford sugere é que a verdadeira arte não precisa de uma função específica para existir; ela se justifica por sua própria essência.


Filme: Animais Noturnos
Direção: Tom Ford
Ano: 2016
Gêneros: Thriller/Drama
Nota: 8/10