Se há um filme que todos precisam assistir pelo menos uma vez na vida, ele está na Netflix Divulgação / Big Beach Films

Se há um filme que todos precisam assistir pelo menos uma vez na vida, ele está na Netflix

A infância, para muitos, acaba por se transformar numa espécie de refúgio seguro na vida adulta. Mesmo quando crescemos e assumimos as responsabilidades e restrições impostas pelo cotidiano, existe sempre a lembrança daquela criança frágil, que observamos em fotos antigas, despreocupada e alheia às dificuldades do mundo. O tempo avança e a juventude cede espaço, mas as memórias da infância resistem, preservando-se como uma constante em meio às incertezas da vida adulta. É um ponto de apoio, um lugar de conforto emocional para onde voltamos em busca de consolo diante dos desafios diários. As experiências dessa fase, com seus altos e baixos, ficam profundamente marcadas, refletindo em cada decisão importante que tomamos. De alguma forma, nossas lembranças dessa época emergem, sugerindo uma sabedoria instintiva que nos adverte sobre nossos próprios erros ou celebra os momentos de alegria genuína vividos nos primeiros anos.

Stephen Chbosky mergulha com maestria na delicada questão dos traumas da infância ao dirigir “Extraordinário” (2017), um retrato sensível sobre as descobertas de um menino incomum em meio aos desafios que ultrapassam seu pequeno universo. Adaptado da obra de R.J. Palacio, o filme acompanha o jovem August Pullman, que nasceu com uma rara condição congênita que afetou seu desenvolvimento facial e lhe trouxe inúmeras dificuldades desde o nascimento. Logo nos primeiros momentos da vida, August enfrentou cirurgias e procedimentos médicos que, por algum motivo, não haviam sido detectados previamente, tornando sua trajetória desde o nascimento uma constante batalha pela sobrevivência. Esse cenário, retratado em cenas que alternam ternura e tensão, cria a base de uma narrativa que vai muito além de uma simples condição médica.

Palacio inspirou-se, em parte, ao observar um garoto com características semelhantes, mas a história também ressoa com a vida de Roy Lee Dennis, conhecido como Rocky, que morreu ainda jovem devido à mesma síndrome retratada em “Marcas do Destino” (1985). Enquanto a trajetória de Rocky é mais dramática, Chbosky opta por uma abordagem mais leve, centrando-se na força e nos vínculos afetivos de Auggie, que, apesar das dificuldades, recebe o amor incondicional da mãe, vivida por Julia Roberts. A personagem de Roberts sacrifica sua carreira para educar o filho em casa, até decidir, contra a vontade do pai, interpretado por Owen Wilson, que o garoto está pronto para frequentar uma escola comum. A relação familiar, com suas discordâncias e afeto genuíno, é um dos pontos altos do filme, que também explora a complexa dinâmica entre Auggie e sua irmã, Olivia, interpretada por Izabela Vidovic, que lida com a sombra constante do irmão e a perda da avó.

O filme de Chbosky explora com delicadeza as dificuldades enfrentadas por Auggie ao ingressar numa escola tradicional, lidando com o bullying, a busca por aceitação e as amizades incertas. Jacob Tremblay, no papel de Auggie, oferece uma interpretação comovente e multifacetada, capturando a essência de um garoto que, apesar de sua maturidade precoce, ainda depende das opiniões e aceitação alheias. Tremblay entrega um desempenho que vai além das expectativas, proporcionando ao público momentos de reflexão e emoção. Embora o foco do filme se amplie para outros personagens, é em Auggie que reside o coração da narrativa, fazendo com que a história toque profundamente quem a acompanha, mantendo seu equilíbrio entre o drama e a leveza.


Filme: Extraordinário
Direção: Stephen Chbosky
Ano: 2017
Gênero: Drama
Nota: 9/10