O melhor filme dos últimos 5 anos, baseado em uma história real que impactou o mundo, acaba de chegar à Netflix Divulgação / Dreamworks Pictures

O melhor filme dos últimos 5 anos, baseado em uma história real que impactou o mundo, acaba de chegar à Netflix

Todd Haynes ganhou destaque em Hollywood por sua abordagem marcante e dramática, conhecida por explorar temas carregados de emoção e exagero calculado. Em “Longe do Paraíso” (2002), ele expõe a hipocrisia por trás de um casamento idealizado, ao mesmo tempo que trata questões de racismo e homossexualidade nos Estados Unidos dos anos 1950. Já em “Não Estou Lá” (2007), ele explora as diferentes facetas de Bob Dylan, o ícone do folk, cuja complexidade o torna uma das figuras mais importantes da música.

Essa tendência continua em “O Preço da Verdade” (2019), um filme de tribunal em que Haynes foca na investigação solitária e autodestrutiva de um advogado empenhado em provar a culpa de uma gigante industrial. A empresa, DuPont, acusada de despejar substâncias tóxicas em um rio de uma pequena cidade de Ohio, ameaça a vida dos moradores locais. Embora o risco de melodrama fosse alto, Haynes mantém o equilíbrio com uma narrativa que, ainda que tocante, se sustenta na sobriedade e na racionalidade.

Mark Ruffalo interpreta Robert Bilott, o advogado que inicialmente construiu sua carreira defendendo grandes corporações químicas. Ruffalo, reconhecido ativista ambiental, usa seu sucesso em grandes produções comerciais, como as da Marvel, para financiar filmes menores com temáticas importantes. Em produções como “Minhas Mães e Meu Pai” (2010) e “Spotlight: Segredos Revelados” (2015), ele tem a liberdade de abordar as causas que considera essenciais, e “O Preço da Verdade” não é exceção.

O papel de Bilott se torna ainda mais interessante quando ele decide mudar de lado, movido por uma crise de consciência, ao aceitar defender um fazendeiro local cuja propriedade foi contaminada pela DuPont. Ao retornar à cidade onde cresceu, o advogado, antes insensível às questões dos clientes, revela uma faceta inesperada de defensor incansável da justiça, em uma batalha que remete ao clássico combate de David contra Golias, com riscos imensos e um possível fracasso à espreita.

Conforme o filme avança, a deterioração física e mental de Bilott se torna evidente, resultado de sua luta isolada contra o poder corporativo. Essa figura de um anti-herói consciente de suas escolhas, mas ciente de que está sendo perseguido por aqueles que ele enfrenta, evoca personagens históricos como Atticus Finch em “O Sol é Para Todos” (1962). Assim como Finch, Bilott assume o fardo de lutar por um cidadão comum, enfrentando hostilidade e desconfiança, mesmo quando a verdade está claramente do seu lado.

A narrativa de Haynes, estruturada de forma lenta e meticulosa, captura a tensão e o desespero de uma batalha judicial que se estende por décadas. O cineasta destaca o aspecto kafkiano da burocracia, com intermináveis idas e vindas a escritórios e órgãos que dificultam as soluções. Essa realidade, tão semelhante ao que se vê em muitos lugares, provoca reflexões sobre o embate entre o individualismo e o bem comum, o capitalismo desenfreado e a preservação ambiental, questões urgentes que o filme coloca em discussão de maneira profunda.

O longa de Haynes expõe, de forma dolorosamente familiar, a batalha entre a ganância corporativa e a sobrevivência do meio ambiente, evocando a necessidade de questionarmos nosso papel na preservação dos recursos naturais. A ausência de figuras heroicas à la Bilott ou Finch na vida real só agrava a sensação de impotência e nos faz refletir sobre a escassez de salvadores dispostos a enfrentar o sistema.


Filme: O Preço da Verdade
Direção: Todd Haynes
Ano: 2019
Gêneros: Drama/Mistério
Nota: 9/10