De tempos em tempos, a possível legalização das drogas alcança o heterogêneo interesse da sociedade, e então teorias as mais vesanas sobre essa ou aquela possível consequência tomam conta das rodas de conversa nos botecos, nas escolas, universidades, gabinetes ministeriais e na Suprema Corte, fenecendo do mesmo jeito repentino e atabalhoado como quando aparecera. O consumo de cannabis sativa remonta a dez mil anos, mas se ela, por alguma razão misteriosa, desaparecesse da face da Terra para sempre, histórias a exemplo da que se assiste em “Magnatas do Crime” ainda teriam alguma razão de ser.
A série em oito episódios explica os bastidores de uma disputa familiar em torno de um império erguido sobre negócios escusos, mantidos a salvo graças à esperteza acima da média de um patriarca moribundo, exatamente o ponto de onde Guy Ritchie sai para esclarecer o motivo de as coisas serem como se vê no filme de 2019. Aqui, o diretor propõe um spin-off, uma derivação do longa de há cinco anos para tentar preencher lacunas narrativas e desdobrar conflitos que julga frutíferos; entretanto, reproduzir o caos imanente mostrado antes revelou-se um desafio ousado demais. Se não, vejamos.
Eddie Horniman está muito bem como um guarda da fronteira, até que é forçado a abandonar o posto para atender ao chamado do pai milionário no leito de morte. Eddie chega ao palacete em que mora a família tomando pé das tantas questões que passam a fazer parte do eixo dessa nova abordagem, como o envolvimento de Freddy, o irmão caçula vivido por Daniel Ings, com traficantes da pesada a quem deve oito milhões de libras. Ritchie aproveita a chance para voltar a um momento bastante preciso do longa, e então a série apropria-se de seu andamento mais pausado, com tempo para que se vislumbrem saídas menos óbvias às subtramas que agora ganham espaço.
“Magnatas do Crime” está disposta a retratar o aparentemente limitado universo criminal do Reino Unido, porém acaba por se fixar mesmo é nas idas e vindas de Eddie quanto a resolver (ou enredar-se ainda mais) nas encrencas de seu clã disfuncional, e Theo James dá um show na pele desse homem um tanto perdido em suas ilusões, malgrado conte com os alertas de Susie Glass, uma espécie de super ego e anjo da guarda do anti-herói. Kaya Scodelario fornece mais alguns elementos originais a esta nova proposta, ganhando, com todo o mérito, um capítulo para chamar de seu na segunda metade da temporada e livrando este conto acerca da inconveniência de certas relações familiares do desastre completo.
Filme: Magnatas do Crime
Criação: Guy Ritchie
Ano: 2024
Gênero: Drama
Nota: 8/10