Um filme como nenhum outro na Netflix: uma história que toca a alma e vale cada segundo Mike Kubeisy / Imagine Rights

Um filme como nenhum outro na Netflix: uma história que toca a alma e vale cada segundo

A sabedoria popular defende que o ser humano perspicaz aprende com os próprios erros, enquanto os sábios buscam lições nas experiências alheias. Quando o cinema se volta para histórias reais, há sempre uma riqueza de ensinamentos, tanto para quem viveu o enredo quanto para o espectador atento. No caso de uma obra como “I Can Only Imagine”, o público é conduzido através de uma narrativa densa, onde uma sequência de tragédias familiares desemboca, muitos anos depois, em um triunfo inesperado: a conquista de três discos de platina para a banda cristã MercyMe, tornando-a uma referência global no cenário musical gospel.

Especializados em criar filmes com histórias de reviravoltas emocionais em personagens à beira do fracasso, os diretores Jon e Andrew Erwin exploram o longo e árduo caminho trilhado por Bart Millard. Desde uma infância conturbada, pontuada por abuso e abandono, até o estrelato como vocalista de uma das maiores bandas cristãs, o filme constrói um retrato profundo da perseverança. O roteiro, assinado por Brent McCorkle e o próprio Jon Erwin, revela memórias dolorosas e delicadas de Millard, oferecendo ao espectador um mergulho nas emoções complexas de quem enfrentou, com coragem, os fantasmas do passado e as nuances de sua transformação pessoal.

Cada pessoa tem sua história de inadequação diante do mundo, uma constante busca por aceitação e uma luta interna contra forças maiores do que sua vontade. De algum modo, todos nós, sem exceção, estamos presos em redes invisíveis que nos conectam e nos tornam vulneráveis aos ventos contrários que surgem ao longo da vida. E é nesse redemoinho de desafios que encontramos o ponto de ruptura, o momento em que o destino joga suas peças imprevisíveis e nos impulsiona para além do que acreditávamos ser o nosso limite, abrindo portas para possibilidades que antes pareciam inalcançáveis.

O sentimento de derrota, por mais amargo que seja, é um obstáculo que, quando enfrentado, pode revelar a essência da superação. Aqueles que encontram forças para continuar, mesmo após quedas repetidas, são os que experimentam os mais profundos reviravoltas. É nesse jogo entre a amargura e a esperança que o filme se sustenta, desenhando um cenário em que as surpresas da vida, por vezes cruéis, se convertem em fontes de redenção e crescimento, mesmo quando tudo parece estar perdido.

Parte fundamental do impacto de “I Can Only Imagine” recai sobre seu elenco. Os diretores Erwin transportam o público para 1985, em uma pequena cidade do Texas, onde o jovem Bart, interpretado por Brody Rose, tenta sobreviver à dura realidade de uma infância marcada pela violência paterna. Com uma performance convincente, Rose capta a agonia silenciosa do protagonista, enquanto a narrativa constrói, de forma gradual, os motivos por trás da fuga de sua mãe, Adele, vivida por Tanya Clarke, que finalmente abandona o lar após anos de abuso.

À medida que a trama avança, John Michael Finley assume o papel de Bart na fase adulta, trazendo uma interpretação sólida que conduz o filme ao seu clímax. O reencontro com seu pai, Arthur, em seus últimos dias de vida, acometido por um câncer, fecha o ciclo de reconciliação e cura para o protagonista. No fim, a trajetória de Bart Millard nos lembra que, embora muitas coisas permaneçam insondáveis, o poder de imaginar e transformar a dor em algo extraordinário está ao alcance de todos.


Filme: I Can Only Imagine 
Direção: Jon e Andrew Erwin 
Ano: 2018 
Gênero: Drama  
Nota: 8/10