Últimos dias para ver na Netflix: o romance ganhador do Oscar, que foi assistido por 550 milhões de pessoas desde o lançamento

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Retratar uma narrativa que busca transmitir otimismo a qualquer custo, mesmo quando lida com temas delicados e profundos, pode ser uma tarefa desafiadora. O equilíbrio entre entretenimento e reflexão, muitas vezes, é difícil de alcançar sem cair em armadilhas previsíveis. “O Lado Bom da Vida” escapa habilmente dessa tentação ao não recorrer a truques baratos de apelo emocional. Com protagonistas carismáticos e uma narrativa sólida, o filme se destaca como um sopro de novidade em meio a tantas produções de romance superficiais que apenas arranham a superfície daquilo que poderia ser um filme verdadeiramente impactante.

David O. Russell, em um dos seus trabalhos mais brilhantes, une dois dos maiores talentos de Hollywood e os coloca em papéis que fogem totalmente dos padrões. Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, ambos reconhecidos por seu magnetismo nas telas, interpretam personagens complexos e emocionalmente desajustados, trazendo à tona uma representação crua e honesta de distúrbios mentais. O diretor habilmente desconstrói as camadas da instabilidade psicológica dos personagens e, a partir dessa desconstrução, permite que o público enxergue a beleza que reside na vulnerabilidade humana. A estreia do filme no Brasil, em 8 de fevereiro de 2013, trouxe um Bradley Cooper completamente diferente de seus papéis anteriores. Conhecido inicialmente por suas participações em séries leves como “Sex and the City”, ele construiu sua carreira de forma sólida e contínua, e com “O Lado Bom da Vida” atinge, possivelmente, o auge de sua trajetória como ator. O papel de Patrizio Solitano Jr., ou Pat, representa um marco na carreira de Cooper, que se mostra capaz de dar vida a um personagem multifacetado e complexo.

Ao abordar o colapso psicológico de Pat, desencadeado após encontrar sua esposa com outro homem, Russell adota uma abordagem inteligente, sugerindo os eventos em vez de explicitá-los. Pat reage impulsivamente, um comportamento que, apesar de esperado em situações de traição, custa-lhe caro. Internado por oito meses em uma instituição psiquiátrica, ele perde seu emprego e vê sua vida desmoronar, ainda preso a um amor obsessivo por Nikki, sua ex-esposa. Forçado a viver novamente com seus pais, Pat tenta, de forma caótica, retomar o controle de sua vida. A interpretação de Robert De Niro como Pat Sr. traz um toque familiar à trama, embora, em alguns momentos, seu desempenho pareça ofuscado pela intensidade de Jacki Weaver, que interpreta a mãe de Pat.

É quando Jennifer Lawrence entra em cena que o filme realmente ganha fôlego. Sua personagem, Tiffany, também carrega traumas profundos. Após perder o marido de maneira trágica, ela responde ao luto com uma espiral de comportamento autodestrutivo, envolvendo-se com vários homens de seu local de trabalho, o que acaba resultando em sua demissão. Quando Tiffany e Pat se conhecem, suas histórias de dor e confusão emocional rapidamente se entrelaçam, e é essa conexão entre dois indivíduos tão quebrados que forma o cerne da narrativa.

O arco de transformação de Pat e Tiffany, de indivíduos marginalizados e emocionalmente instáveis a protagonistas que desafiam as convenções sociais, é o ponto alto da trama. Ambos carregam as cicatrizes de suas respectivas jornadas, mas, juntos, descobrem que podem encontrar um novo sentido para suas vidas. Russell constrói essa evolução de forma cuidadosa, usando a vulnerabilidade e a complexidade de seus personagens para criticar as expectativas sociais. A decisão de Pat de não punir sua ex-esposa, mas de canalizar sua frustração no amante dela, e a resposta promíscua de Tiffany à sua própria perda são retratadas com uma sensibilidade que evita julgamentos simplistas.

À medida que a trama avança, o relacionamento entre Pat e Tiffany se desenvolve de forma sincera e gradual. Enquanto Pat continua preso à ideia de reconquistar Nikki, Tiffany, com uma visão mais clara da realidade, percebe que o caminho para a cura de ambos passa por sua aceitação mútua. A proposta de Tiffany de ajudar Pat a enviar uma carta para Nikki, em troca de sua participação em um concurso de dança, serve como catalisador para a aproximação dos dois. O concurso de dança, além de ser um momento cômico e emocionalmente carregado, simboliza o processo de cura dos personagens, representando um ponto de virada em suas vidas.

A química entre Cooper e Lawrence é inegável, algo que já havia despertado rumores fora das telas, mas que, dentro da narrativa, se traduz em performances cativantes. Cooper, com sua atuação minimalista e cuidadosamente contida, equilibra o brilho explosivo de Lawrence. Sua escolha por uma interpretação mais sutil, permitindo que Tiffany brilhe nos momentos certos, demonstra sua segurança como ator. O resultado é uma parceria dinâmica que sustenta a trama até o final.

“O Lado Bom da Vida” não se limita a ser apenas um veículo para mostrar o talento de seus protagonistas. A direção cuidadosa de Russell, aliada a um roteiro envolvente e uma narrativa emocionalmente rica, cria uma obra coesa e significativa. O filme explora a reconstrução da vida e a reordenação dos afetos de maneira honesta, deixando claro que, mesmo nas circunstâncias mais improváveis, há sempre uma chance de redenção.


Filme: O Lado Bom da Vida
Direção: David O. Russell
Ano: 2012
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 10/10