A comédia romântica mais assistida de 2024: o primeiro filme do Prime Video a ultrapassar 200 dias no top 10 mundial Divulgação / Amazon Studios

A comédia romântica mais assistida de 2024: o primeiro filme do Prime Video a ultrapassar 200 dias no top 10 mundial

A multiplicidade de séries transmitidas tanto por emissoras de TV quanto pelas plataformas de streaming, que se multiplicam a cada dia, tem uma função clara: atrair os olhos do público para novos talentos que podem despontar em projetos mais ambiciosos.

“Riverdale” (2017-2023), transmitida pela CW, é um exemplo marcante dessa tendência, ao reunir não apenas rostos jovens e atraentes do universo pop, mas também como palco para o surgimento de uma safra de atores com habilidades notáveis. Entre eles, destaca-se Charles Melton, que, em “Segredos de Um Escândalo” (2023), dirigido por Todd Haynes, demonstra um talento que vai muito além da estética, superando as expectativas de muitos espectadores.

Por sua vez, “Upgrade: As Cores do Amor” também traz à tona outro fruto dessa safra: Camila Mendes, uma das estrelas emergentes de “Riverdale”. No longa dirigido por Carlson Young, Mendes se sobressai em uma adaptação moderna, embora grosseira, do clássico “O Diabo Veste Prada” (2006), de David Frankel, com influências nítidas de “Quando Encontrei Você” (2021), dirigido por Brian Baugh. A trama combina elementos dessas duas narrativas, o que é particularmente visível na construção da personagem de Mendes, que lida com dilemas éticos e decisões difíceis ao longo do filme, remetendo ao tipo de conflito vivido por Andrea Sachs, interpretada por Anne Hathaway no icônico filme de 2006.

Os roteiristas Christine Lenig, Justin Matthews e Luke Spencer Roberts habilmente entrelaçam essas histórias, criando uma narrativa em que se espera que a heroína de Mendes enfrente um dilema moral que a faça questionar sua ascensão, uma reminiscência do que Hathaway viveu. No entanto, os tempos mudaram, e as protagonistas modernas são feitas de outra fibra, navegando por seus dilemas de maneira menos previsível.

A protagonista, Ana Santos, retratada por Camila Mendes, vive uma realidade desoladora e paradoxal: mestre em história da arte, ela está à beira da indigência, vivendo de favor com sua irmã Vivian e o cunhado Ronnie. A obra “O Cisne — Número 1” (1915), que adorna a parede da casa, reflete simbolicamente o embate de forças opostas que Ana está prestes a enfrentar. A diretora Carlson Young explora a complexidade da personagem, retratando-a de maneira profundamente humana e, ao mesmo tempo, com uma inocência que beira o patológico, especialmente em suas interações com Vivian e Ronnie, este último servindo como o alívio cômico necessário em uma narrativa densa.

Ana, uma profissional dedicada, logo detecta um erro em um catálogo de leilão — as obras listadas são de acrílico, não de óleo sobre madeira —, e, ignorando as regras hierárquicas do escritório, leva o erro diretamente à atenção de Claire Dupont, a poderosa diretora da renomada casa de leilões onde ela estagia. A ousadia de Ana é recompensada com uma promoção a terceira-assistente, um avanço inesperado que a leva a embarcar numa jornada para Londres. Lá, sua tarefa é auxiliar na listagem de obras de arte valiosíssimas, incluindo pinturas de Van Gogh e Monet, pertencentes a uma famosa atriz viúva de um multimilionário russo.

O título do filme ganha vida quando Ana, inicialmente destinada a viajar em classe econômica, recebe um upgrade para a primeira classe, simbolizando não apenas sua ascensão profissional, mas também a virada que sua vida está prestes a dar. No avião, ela conhece William DeLaroche, um homem encantador e afluente, que se senta ao seu lado. O encontro casual, provocado por um incidente com suco de tomate na sala VIP, acaba moldando os acontecimentos seguintes. DeLaroche se revela não apenas um apreciador de arte, mas também um potencial interesse romântico para Ana.

Carlson Young dá espaço para que a química entre Camila Mendes e Archie Renaux (que interpreta William) floresça, proporcionando um contraponto romântico à narrativa. No entanto, como em toda boa comédia de erros, a mentira inocente de Ana — contada para impressionar — começa a crescer e acaba envolvendo Claire, a temida chefe, numa rede de enganos que complica a vida da protagonista.

Marisa Tomei domina as cenas em que aparece, interpretando a antagonista Claire, cuja presença ameaçadora se intensifica ao longo do filme. A introdução de Catherine, interpretada por Lena Olin, como a viúva excêntrica e mãe de William, traz uma nova dinâmica à trama. O relacionamento entre Ana e Catherine é explorado de maneira orgânica, com Olin trazendo uma exuberância que contrasta com a rigidez aristocrática da personagem de Tomei, criando um paralelo intrigante entre as duas figuras femininas que cercam Ana.

Em meio a tantas intrigas, é Catherine quem acaba se tornando a salvadora inesperada de Ana, livrando-a das garras de Claire e ajudando-a a encontrar seu caminho. O desfecho, que envolve um resgate romântico digno dos contos de fadas, pode desafiar a lógica, mas não deixa de manter viva a poesia, encerrando a trama com um toque de magia e encantamento que faz jus às expectativas dos fãs do gênero.


Filme: Upgrade: As Cores do Amor
Direção: Carlson Young
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Romance 
Nota: 8/10