O filme europeu da Netflix que já foi assistido por 135 milhões de pessoas Divulgação / Netflix

O filme europeu da Netflix que já foi assistido por 135 milhões de pessoas

Ao mergulharmos, mesmo que brevemente, nas profundezas da nossa essência, afastando-nos das facilidades que a modernidade nos oferece, descobrimos verdades antigas, respostas há muito procuradas. Esse ato de introspecção, por vezes desesperado e outras tantas carregado de uma lógica perturbadora, se assemelha ao caminhar solitário de um poeta desiludido, que, em meio a devaneios impossíveis, sente o toque etéreo de algo transcendente, enquanto persegue um objetivo inatingível. A humanidade, conhecida por seus desejos inalcançáveis, tende a sabotar suas próprias conquistas, como se estivesse fadada a se render ao fracasso. Mesmo diante da possibilidade concreta de felicidade, o homem frequentemente rejeita esse estado, incapaz de aceitar suas imperfeições como partes essenciais do seu ser. Nessa rejeição, há algo paradoxalmente belo: a compreensão de que, nas falhas, reside a singularidade e a riqueza da experiência humana.

Talvez, a felicidade esteja além do alcance humano, seja pela falta de esforço ou por uma ausência de aptidão natural para alcançá-la. A natureza, por outro lado, continua a sua marcha indiferente às crises morais da humanidade. Ela ruge de maneira tão intensa, na esperança de romper o letargo em que nos refugiamos, enquanto vastas florestas são destruídas para alimentar a ganância humana, e espécies desaparecem diante de nossos olhos, sem que possamos evitar. O calor implacável seca o solo, impedindo que as chuvas retornem, e até mesmo a água, contaminada pelo que chamamos de “progresso”, se deteriora. O homem, sempre pronto a oferecer desculpas frágeis, persiste em ações antiquadas que prejudicam tanto a natureza quanto a si próprio, sem perceber a gravidade de suas escolhas.

Dentro deste cenário desolador, o diretor norueguês Roar Uthaug busca explorar um território inexplorado em sua carreira cinematográfica, trazendo à tona um folclore pouco conhecido fora de sua terra natal. “O Troll da Montanha” surge como um grito de desespero da Terra, materializado em uma criatura monstruosa que, em sua essência, não é uma ameaça, mas uma entidade que luta para sobreviver. O roteiro, escrito por Uthaug e Espen Aukan, inicialmente parece direcionado ao entretenimento puro, voltado a um público acostumado com tramas que aliviam tensões cotidianas. No entanto, o filme rapidamente se revela mais profundo do que aparenta. Assim como obras clássicas como “King Kong” e “Godzilla” carregam mensagens sociofilosóficas que muitas vezes passam despercebidas, “O Troll da Montanha” vai além da simples diversão, conduzido pela mão segura do diretor, que guia a história para o ponto desejado desde o princípio.

A protagonista, Nora Tideman, vivida por Ine Marie Wilman, é uma paleobióloga cuja grande descoberta finalmente vem à tona: um fóssil de dinossauro que há tempos desperta debates acalorados entre a comunidade científica internacional. Mas o que parecia ser uma simples exploração científica logo se transforma em algo muito maior, quando uma implosão em uma área da montanha libera a criatura colossal que domina o enredo. O ser gigantesco, formado de pedras e musgo, não é apenas uma ameaça à humanidade; ele é um símbolo de algo mais profundo, uma resposta da natureza às ações do homem.

Para desvendar o mistério por trás dessa entidade libertada, Nora busca a ajuda de seu pai, Tobias, um homem com suas próprias complexidades, tanto morais quanto psicológicas. Tobias, interpretado por Gard B. Eidsvold, desempenha o papel do excêntrico, uma figura quase obrigatória em filmes que, como este, possuem uma atmosfera densa e austera. No entanto, sua presença é fundamental para a narrativa, trazendo uma dimensão emocional inesperada, especialmente em uma cena comovente que revela um lado sensível da criatura, superando a frieza de muitos seres humanos.

Essa jornada, que mistura mitologia, ciência e um alerta urgente sobre as consequências das ações humanas, faz de “O Troll da Montanha” uma obra que, apesar de suas camadas de entretenimento, oferece reflexões profundas.


Filme: O Troll da Montanha
Direção: Roar Uthaug
Ano: 2022
Gêneros: Terror/Ação/Suspense
Nota: 8/10