Últimos dias para assistir na Netflix ao suspense com Anya Taylor-Joy indicado a 76 prêmios, incluindo 2 Baftas Divulgação / Focus Features

Últimos dias para assistir na Netflix ao suspense com Anya Taylor-Joy indicado a 76 prêmios, incluindo 2 Baftas

Eloise Turner, protagonista de “Noite Passada em Soho”, enfrenta um dilema que transcende questões de identidade. Sua luta não está em descobrir quem ela é, mas em conciliar seus desejos mais profundos com a essência que a define, sem se submeter às expectativas moldadas por um mundo que dita padrões inalcançáveis. O filme, uma obra de Edgar Wright em parceria com a roteirista Krysty Wilson-Cairns, é repleto de referências à cultura pop, com ênfase na cena musical de Londres dos anos 1960, especialmente o rock e o punk. Essa combinação oferece uma vitalidade única ao longa, evocando um charme vintage que dialoga diretamente com a personalidade de Ellie. Porém, essa harmonia é ameaçada por uma reviravolta que desafia a estrutura do filme e a própria jornada da personagem.

Ao se mudar para Londres para estudar moda, Ellie, acompanhada pela avó Peggy — vivida com uma ternura incontestável por Rita Tushingham —, demonstra uma euforia palpável. Sua partida é marcada pelo embalo de uma vasta coleção de discos, um indicativo de sua paixão pela música e de sua ingenuidade, acreditando que o tempo e as obrigações da vida adulta lhe permitirão manter esse hábito. A jovem chega à cidade com uma energia típica de quem deseja conquistar o mundo. Entretanto, seu entusiasmo juvenil logo se choca com a crua realidade das ruas de Soho, onde ela rapidamente se vê imersa em uma espiral sombria, confrontada por um ambiente que revela a face mais brutal da humanidade.

Inicialmente, Ellie nutre a esperança de construir laços de amizade com suas novas colegas, perseguindo a utopia de uma felicidade plena. Contudo, ela começa a perceber, ainda que de forma sutil, que o mundo, assim como a alegoria da caverna de Platão, nada mais é do que um reflexo distorcido das nossas próprias ilusões e desejos. O otimismo juvenil de Ellie é abalado em uma festa organizada pelo grupo de Jocasta, onde sua crença em ser acolhida é despedaçada de maneira amarga e melancólica. A rivalidade entre Ellie, interpretada por Thomasin McKenzie, e Jocasta, vivida por Synnøve Karlsen, é estabelecida de forma clara nesses primeiros encontros. No entanto, Wright reserva para sua protagonista momentos de profundidade que destacam sua evolução.

McKenzie, com uma interpretação que remete à inocência de sua personagem em “Sem Rastros” (2018), dirigido por Debra Granik, adiciona camadas de maturidade e vulnerabilidade à sua atuação. Sua Ellie encontra o equilíbrio perfeito com Sandy, interpretada pela enigmática Anya Taylor-Joy. Sandy, com uma história complexa e cheia de nuances, desafia o público a enxergar além das aparências, assim como a própria narrativa do filme. “Noite Passada em Soho” é uma obra que, por meio de sua estética marcante e trilha sonora vibrante, convida o espectador a explorar os meandros do desejo, da ambição e das escolhas que moldam nossas vidas, refletindo a imprevisibilidade e a dureza da realidade.


Filme: Noite Passada em Soho
Direção: Edgar Wright
Ano: 2021
Gêneros: Terror/Mistério/Comédia
Nota: 9/10