O thriller “Código de Conduta” desafia algumas expectativas tradicionais do gênero em que psicopatas dominam cidades já envoltas em medo e paranoia. Sob a direção de F. Gary Gray, o protagonista não é um galã convencional, mas sim Jamie Foxx, um ator consagrado que encarna um promotor elegante, vestindo ternos impecáveis. Foxx carrega o peso de uma narrativa de 110 minutos repleta de reviravoltas e tensão crescente, mantendo o público engajado do início ao fim.
Enquanto Foxx representa a âncora moral da trama, Gerald Butler é liberado para abraçar completamente o lado sombrio de seu personagem. Ele interpreta Clyde Shelton, um serial killer estrategista e implacável, digno de comparação com o icônico Hannibal Lecter, vivido por Anthony Hopkins em “O Silêncio dos Inocentes”. Assim como Lecter, Shelton exibe uma inteligência afiada e uma frieza meticulosa, o que o torna um adversário assustador. A dinâmica entre Foxx e Butler é eletrizante, com o roteiro de Kurt Wimmer oferecendo cenas intensas que alimentam um embate psicológico constante entre seus personagens. Essa rivalidade entre o promotor e o assassino move a narrativa, gerando uma tensão contínua que nunca se dissipa, apesar da longa duração do filme.
Foxx dá vida a Nicholas Rice, um promotor público ambicioso, determinado a livrar a cidade de Filadélfia do crime organizado. No entanto, Clyde Shelton não se encaixa no perfil de traficantes e mafiosos com quem Rice normalmente lida. O filme abre com um prólogo impactante, em que Shelton, voltando para casa após um dia comum, presencia o brutal assassinato de sua esposa e filha, cometidos por um intruso sem remorso. Essa tragédia marca o início de uma jornada de vingança que consumirá Shelton ao longo de uma década, transformando-o de homem comum em um assassino implacável.
Avançando dez anos, Rice consolidou-se como uma figura poderosa e influente no sistema judiciário da Pensilvânia, equilibrando sua vida profissional com as responsabilidades familiares, ao lado de sua esposa Kelly (Regina Hall) e sua filha Denise. Por outro lado, Shelton, confinado em uma prisão de segurança máxima, perde gradualmente sua humanidade, sendo movido apenas por seu desejo insaciável de vingança. Se ele planejou tudo sozinho ou contou com aliados na polícia e no Judiciário é uma questão que o filme mantém em aberto, intensificando o mistério.
Gray injeta uma assinatura própria na narrativa ao explorar a complexidade moral de seus personagens. A cena em que Shelton, disfarçado de policial, captura Jonas Cantrell — o homem responsável por destruir sua vida — é um ponto alto do filme, mergulhando em um território visceral. A tortura a que submete Cantrell, removendo suas pálpebras e mutilando seus órgãos genitais, é brutal, mas nunca gratuita, servindo como um reflexo da mente distorcida de Shelton. Enquanto isso, o detetive Dunnigan, vivido por Colm Meaney, surge como um personagem secundário de crescente relevância, com suas ações levantando suspeitas sobre sua verdadeira lealdade, embora seja possível que isso seja apenas uma jogada da “Lei da Economia de Personagens”.
No entanto, o filme não escapa de algumas falhas. O personagem de Bruce McGill, o vilão caricato Jonas Cantrell, desaparece sem causar grande impacto, e o potencial de Viola Davis é desperdiçado em um papel apagado como a prefeita April Henry. Sua atuação, apesar de competente, não atinge o nível esperado, sendo ofuscada pela força das atuações de Foxx e Butler. Mesmo assim, “Código de Conduta” consegue se destacar como um thriller intenso e envolvente, graças à sua exploração profunda dos limites entre justiça e vingança, com performances que mantêm o público à beira do assento até os momentos finais.
Filme: Código de Conduta
Direção: F. Gary Gray
Ano: 2009
Gêneros: Thriller/Ação
Nota: 8/10