Minha primeira experiência com a obra de Taika Waititi aconteceu ao assistir “O Que Fazemos nas Sombras”. Inicialmente, não tinha a menor intenção de ver esse filme, quando ele apareceu na tela da minha TV. Tudo nele parecia refletir aquilo que eu mais evitava em uma produção cinematográfica. Porém, em menos de 20 segundos, já estava completamente rendida. Waititi é um diretor que tem a rara habilidade de pegar premissas que poderiam soar medíocres e transformá-las em verdadeiras joias. Foi assim que, após essa comédia de humor negro e excentricidade, percebi que acompanharia cada produção assinada por ele. O próximo na lista foi “A Incrível Aventura de Rick Baker”, uma obra completamente distinta, como é comum em sua filmografia. Taika jamais é previsível, mas consegue sempre ser surpreendente.
Se em “O Que Fazemos nas Sombras” ele brinca com estereótipos ao criar uma narrativa cômica sobre vampiros tentando se adaptar ao mundo moderno e suas demandas capitalistas — enfrentando dilemas como o sol, estacas e alhos — “A Incrível Aventura de Rick Baker” traz uma abordagem completamente diferente. Aqui, temos a história de um menino órfão, acolhido por uma família improvável, enquanto busca se conectar emocionalmente com seu padrasto, um homem distante e aparentemente incapaz de afeto.
É impossível falar de Taika Waititi sem mencionar o brilhante “Jojo Rabbit”, filme que lhe garantiu o Oscar de melhor roteiro adaptado. Diferente de tudo o que fez anteriormente, essa produção americana conta com estrelas de peso como Scarlett Johansson e Sam Rockwell, comprovando a versatilidade do diretor. Independentemente do estilo ou do orçamento envolvido, sejam filmes independentes ou grandes produções hollywoodianas, Taika tem uma capacidade singular de conquistar a crítica. Seu talento é inquestionável e parece ter se manifestado de forma totalmente madura desde o início de sua carreira.
“A Incrível Aventura de Rick Baker”, disponível na Netflix, acompanha Rick Baker (Julian Dennison), um jovem que há muito tempo circula no sistema de adoção. Devido a seu comportamento rebelde, ele passa de casa em casa, mas sempre retorna ao abrigo. A assistente social responsável por ele, Paula (Rachel House), não ajuda muito, já que prefere focar nos defeitos de Rick em vez de destacar suas qualidades, tornando-o ainda mais desanimado.
É então que Bella (Rima Te Wiata) decide acolhê-lo. Casada com Hec (Sam Neill), um homem de poucas palavras e distante, Bella, por outro lado, é uma mulher afetuosa e calorosa. Ela aceita Rick de braços abertos e, com sua sabedoria simples, deixa claro que ele é bem-vindo, mas livre para decidir seu futuro. Pela primeira vez, Rick sente que pertence a um lugar, até que uma tragédia inesperada muda tudo, e o sistema de adoção quer levá-lo de volta. Rick, porém, não está disposto a abandonar o lar que encontrou com Bella e Hec e decide fugir, mas acaba sendo interceptado por seu padrasto. Juntos, os dois acabam se aventurando pela floresta, onde vivem uma série de experiências perigosas e divertidas, que acabam por aproximá-los.
A grande mensagem do filme é a de que tanto Rick quanto Hec, ambos marginalizados pela sociedade, encontram em Bella a única pessoa que lhes oferece amor incondicional. Ela, de forma deliberada, escolhe aqueles que o mundo prefere ignorar, proporcionando-lhes uma chance de se redimirem.
Sob a direção de qualquer outro cineasta, “A Incrível Aventura de Rick Baker” poderia facilmente ter se tornado mais uma comédia familiar genérica. No entanto, com o toque único de Taika Waititi, repleto de humor afiado e diálogos perspicazes, a produção se transforma em algo verdadeiramente único e memorável.
Filme: A Incrível Aventura de Rick Baker
Direção: Taika Waititi
Ano: 2014
Gênero: Comédia/Drama/Aventura
Nota: 9/10