Terror sobre vampiro que superou bilheteria de “Drácula de Bram Stocker”, na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Terror sobre vampiro que superou bilheteria de “Drácula de Bram Stocker”, na Netflix

O fascínio que envolve os vampiros, sem dúvida, provém do confronto entre as lendas que cercam essas criaturas e os traços humanos que, por vezes, lhes são atribuídos. Entre essas figuras enigmáticas, Drákul se destaca não apenas pela bravura nas batalhas que travou ao longo da Idade Média, mas também pela aura de mistério e poder que o circunda, retratada em contos góticos desde o século 18.

Drákul, no entanto, transcende a figura de um simples guerreiro sanguinário. Ele é descrito como um homem cuja devoção à família beirava a obsessão, usando esse sentimento como justificativa para o terror e a violência que perpetrou. A versão apresentada pelo cineasta irlandês Gary Shore em “Drácula: A História Nunca Contada” explora aspectos pouco conhecidos de Vlad Tepes, oferecendo ao público uma visão que foge da caricatura clássica.

Com um roteiro que evita as simplificações comuns a esse tipo de narrativa, Burk Sharpless e Matt Sazama nos revelam um Vlad 3º mais complexo, conhecido como Vlad, o Empalador. Nascido em 1431 e falecido em 1476, ele é retratado em seus momentos mais íntimos e pessoais. O filme especula que o primogênito de Vlad teria sido o responsável por perpetuar seu legado, dando continuidade a um reinado de medo em que o poder e a influência eram as únicas garantias de sobrevivência.

Antes de julgar superficialmente personagens históricos tão controversos, é importante entender a profundidade de sua influência e o motivo pelo qual figuras como Vlad trazem consigo uma carga tão grande de debates e polêmicas. O filme não propõe a absolvição, mas sim uma análise mais detalhada e humana de um homem marcado por traumas e circunstâncias extraordinárias.

A abordagem de Shore dá a Vlad 3º um perfil heroico, quase à maneira dos personagens de Lord Byron, que carregam uma aura de tragédia e grandeza. Contudo, à medida que a narrativa avança, o espectador se depara com a verdadeira complexidade do personagem. Vlad, um homem que fora sequestrado ainda na infância e obrigado a lutar nas guerras da Transilvânia, agora retorna como um líder traumatizado e marcado pelas duras realidades que enfrentou.

Sua personalidade, moldada pelo sacrifício e pela brutalidade, reflete o período medieval em que viveu, uma era pouco preocupada com conceitos modernos de direitos humanos ou liberdades individuais. A brutalidade de seus atos, no entanto, é vista sob a luz de uma moralidade ambígua, característica da época em que viveu.

Luke Evans encarna essa ambivalência moral com uma interpretação que revela a profundidade de Vlad 3º. Em determinado ponto do filme, ele esclarece que o nome Drákul significa “filho do dragão”, uma criatura associada a divindades em várias culturas antigas. No entanto, um sacerdote corrige essa visão, ressaltando que muitos dos detalhes sobre a trajetória de Vlad são distorcidos e mal interpretados ao longo do tempo.

As cenas de batalha e as intrigas políticas, nas quais Dominic Cooper brilha interpretando Mehmed, acabam se sobressaindo em relação à história de amor de Vlad e Mirena, interpretada por Sarah Gadon. No entanto, esses momentos servem como uma pausa bem-vinda, aliviando a tensão criada pela trama central de terror e tragédia que circunda a vida de Vlad, um homem que viveu à sua própria maneira e pagou o preço por isso.


Filme: Drácula: A História Nunca Contada
Direção: Gary Shore
Ano: 2014
Gêneros: Terror/Fantasia 
Nota: 8/10