Sabe aquele filme que todas as pessoas deveriam assistir? Ele está na Netflix

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O passar do tempo evoca arrependimentos, que trazem à tona memórias e reacendem velhas mágoas. E as mágoas, essas, carregam um mistério incômodo: ninguém sabe ao certo o impacto que elas podem ter na trajetória de alguém. “Já Era Hora” brinca de forma crítica com um dos conceitos mais essenciais e, ao mesmo tempo, mais subestimados da vida: nossa ilusão sobre o tempo. Nossa visão distorcida e frágil do tempo nos faz crer, de maneira arrogante, que ele deveria seguir nosso ritmo, que o tic-tac dos relógios, a passagem dos dias e a marcha inexorável dos anos nos esperariam. Porém, a realidade é outra: o tempo não nos deve nada, e muito menos se ajusta a nós. Pelo contrário, somos nós que nos adaptamos a ele, sempre confusos, sem nunca saber ao certo o que esperar do inevitável senhor da vida e da indesejada morte.

O protagonista da obra do cineasta italiano Alessandro Aronadio vive em meio a uma tempestade temporal, embora o tempo, em si, seja imutável. O tempo apenas existe. O diretor, em colaboração com Renato Sannio no roteiro, recorre a símbolos tradicionais, como a contagem regressiva de Ano Novo e o constante tique-taque de um relógio, para atrair a atenção do público ao tema principal, que se desenvolve de maneira lenta e deliberada. Logo fica claro que Dante, interpretado por Edoardo Leo, é um homem aprisionado em sua rotina. Seus aniversários passam de forma caótica e repetitiva, sem que ele tenha a chance de saborear as panquecas preparadas por sua esposa, Alice (vivida por Barbara Ronchi), ou de oferecer longos abraços à filha, Galadriel — uma referência metalinguística algo supérflua. A criança cresce a despeito dos pedidos silenciosos de Dante para que o tempo desacelere. Ao final do dia, Alice sempre organiza uma festa para ele, que ele raramente consegue prestigiar. E, mais uma vez, após uma longa jornada no escritório, Dante se vê preso em um trânsito que simboliza todos os outros motoristas igualmente frustrados com planos que jamais se concretizam. Nesse momento, Aronadio mergulha mais fundo na espiral de frustração do protagonista.

A referência à “Divina Comédia” (1320), de Dante Alighieri, embora talvez acidental, é inescapável. O personagem de Leo vive um inferno pessoal, onde a falta de controle sobre sua própria vida se torna insuportável — a impotência diante do que faz ou deixa de fazer. Essa sensação lembra o clássico “Feitiço do Tempo” (1993), dirigido por Harold Ramis, no qual Bill Murray vive um meteorologista condenado a reviver o mesmo dia repetidamente. Como Phil, o protagonista de “Já Era Hora” presencia o colapso de sua vida pessoal enquanto seu lado profissional prospera, revelando a ironia e a crueldade do tempo, que nos coloca diante de questões sem respostas, até que a morte, sempre indesejada, se encarrega de dar o veredicto final. As reviravoltas no enredo de Aronadio, por mais que sejam esperadas, oferecem uma visão sobre a vida e sua conclusão inevitável. A mensagem é clara: aos quarenta anos, quer aceitemos ou não, somos confrontados com verdades que moldam a nossa percepção do mundo. E é essa reflexão que faz de “Já Era Hora” uma obra que transcende o simples entretenimento, oferecendo uma experiência emocional e filosófica, difícil de esquecer.


Filme: Já Era Hora
Direção: Alessandro Aronadio
Ano: 2022
Gêneros: Comédia romântica
Nota: 9/10