Ganhador de 7 Oscars em 2024, o primeiro filme a liderar o ranking global de streaming por mais de 400 dias está no Prime Video Divulgação / Universal Pictures

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Um dos relatos mais impactantes sobre o surgimento da bomba atômica pode ser encontrado em uma entrevista de J. Robert Oppenheimer, na qual ele reflete: “Sabíamos que o mundo não seria mais o mesmo. Algumas pessoas riram. Outras choraram. A maioria ficou em silêncio. Recordei de um trecho do Bhagavad-Gita, onde Vishnu tenta convencer um príncipe a cumprir seu dever e, para impressioná-lo, assume uma forma de múltiplos braços, proclamando: ‘Agora eu me tornei a Morte, a destruidora de mundos’”. Essa narrativa ressoa profundamente com a nova obra de Christopher Nolan, cineasta renomado por clássicos como “O Grande Truque” e “O Cavaleiro das Trevas”, que foca no metahumano Oppenheimer. Distante da figura do homem comum, Nolan equipara o cientista ao mito grego de Prometeu, explorando um dos personagens mais fascinantes e controversos da história moderna com maestria na direção.

O olhar perspicaz de Nolan busca revelar um aspecto humano em Oppenheimer. Após quase divinizá-lo, o diretor realiza uma desconstrução do personagem. Nolan, que já demonstrou ser um dos cineastas mais relevantes da atualidade, como evidenciado em “Dunkirk”, volta a se afirmar. Contudo, a abordagem lembra muito a construção do Batman. Oppenheimer é apresentado como um gênio disciplinado, que passou por uma rigorosa formação acadêmica nas instituições mais prestigiadas do mundo. Iniciou sua jornada na Universidade de Harvard, seguiu para Cambridge e Göttingen, onde foi treinado pelos melhores especialistas em física teórica. Seu trabalho em Berkeley e a colaboração com Max Born na formulação da aproximação de Born-Oppenheimer, um dos modelos mais influentes da física atômica e molecular, destacam suas capacidades excepcionais. O filme enfatiza que suas habilidades foram testadas e são capazes de realizar feitos notáveis. Ao contrário de produções que se detêm em equações complexas e explicações científicas, como em “O Início do Fim”, “Oppenheimer” prefere construir o mito e abordar as consequências de suas ações.

Em um determinado momento da narrativa, Oppenheimer aceita, a convite do General Leslie Groves, a responsabilidade de criar uma cidade em Los Alamos, essencial para atrair os melhores cientistas para o projeto da bomba atômica. Essa decisão é emblemática do espírito americano, onde a construção de cidades para dar vida a projetos grandiosos se torna comum. Para o governo, o custo de criar uma arma de destruição em massa parece irrisório.

“Oppenheimer” traz a magia característica do cinema de Nolan, como já vimos em “O Grande Truque”. O filme recria momentos históricos memoráveis, como o encontro de Oppenheimer com Einstein, que surge quase como uma figura oracular. Esse momento, ambientado em um cenário idílico, repleto de natureza exuberante, amplifica a aura mística de Einstein, que, na sua sabedoria, provoca Oppenheimer a buscar as respostas por si mesmo. Essa representação do físico revela um mentor que oferece tanto bênçãos quanto lições valiosas.

Não existe um herói sem um vilão, e Lewis Strauss é apresentado de maneira clara no roteiro de Nolan, que expõe suas características manipuladoras e egocêntricas. Embora essa faceta não seja imediatamente perceptível, ao longo do filme, Strauss se revela como um antagonista astuto que trama nas sombras, criando uma complexa rede de manipulação.

“Oppenheimer” é, sem dúvida, um dos filmes mais notáveis do ano, com expectativas altas para indicações ao Oscar nas principais categorias. A trilha sonora se destaca, assim como a fotografia primorosa. A qualidade técnica, unida a um roteiro envolvente, demonstra a habilidade de Nolan em dirigir um elenco repleto de talentos. Embora o elenco seja composto por grandes nomes de Hollywood, é Cillian Murphy quem brilha intensamente, entregando uma performance excepcional. Robert Downey Jr., quase irreconhecível, complementa a narrativa com uma atuação de alto nível.

Neste filme, não há vencedores ou perdedores, nem uma dicotomia clara entre bem e mal. Oppenheimer encarna uma ideia complexa e um mito, similar ao que encontramos em “O Cavaleiro das Trevas”, onde o caos rege as dinâmicas entre heróis e vilões. Os rótulos são meras convenções que sustentam a trama. Todos os elementos de “Oppenheimer” se articulam de forma eficaz, e a tentativa de Nolan em humanizar seu protagonista resulta, talvez, em uma representação de Oppenheimer como alguém elevado, cuja mente brilhante deu origem a uma das armas mais devastadoras da história. Embora suas intenções possam ser vistas como altruístas, as consequências de suas ações revelam a complexidade de um herói com motivações profundas e habilidades impressionantes.


Filme: Oppenheimer
Direção: Christopher Nolan
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Suspense
Nota: 9/10