Tão deslumbrante quanto um pôr do sol inesquecível, romance histórico é o filme mais belo atualmente na Netflix Divulgação / Focus Features

Tão deslumbrante quanto um pôr do sol inesquecível, romance histórico é o filme mais belo atualmente na Netflix

A acumulação de riqueza, longe de ser apenas uma conquista material, leva a uma tendência natural de isolamento. Os ricos desenvolvem hábitos estranhos, até mesmo para si próprios, em um esforço contínuo para se afastar das massas. Não se trata apenas de vaidade, mas de preservar a sensação de poder e privilégio que a fortuna oferece. No entanto, junto com essa opulência vem o medo constante de que tudo possa ser perdido. Fortunas colossais podem evaporar num piscar de olhos, e o encanto do sucesso pode se desvanecer para sempre.

É por isso que aqueles que detêm grandes riquezas se rodeiam de pessoas dispostas a agir com sutileza, eliminando potenciais ameaças antes que estas sejam sequer percebidas. Em 2019, Michael Engler trouxe para o cinema o charme da série “Downton Abbey”, que se estendeu por 52 episódios ao longo de seis temporadas. Três anos depois, Simon Curtis decidiu que era hora de revigorar esse universo, lançando “Downton Abbey 2: Uma Nova Era”, onde os personagens centrais, já conhecidos por sua trajetória aristocrática no início do século 20, ampliam seus horizontes para a deslumbrante Riviera Francesa, um destino que promete novas intrigas e desafios.

A ideia de que quanto mais se tem, mais há a perder, permeia também as relações pessoais. O amor, em particular, desponta como um sentimento cheio de contradições e revelações inesperadas, capaz de transformar a vida de quem o vivencia, seja para melhor ou para pior. Na nova fase da história, Violet Crawley, a matriarca do clã, recebe de um velho conhecido — alguém que não via desde a década de 1860 — uma vasta propriedade localizada no sul da França. A novidade desperta a curiosidade e leva a família a se deslocar até o local, enquanto Downton Abbey é temporariamente cedida a uma equipe de filmagem, ficando sob os atentos olhos dos empregados.

Julian Fellowes, o roteirista, constrói com maestria uma narrativa que explora o mistério e a elegância que envolvem a família Crawley, com boas referências ao icônico “Singin’ in the Rain”, de Stanley Donen e Gene Kelly. Além disso, Curtis injeta na trama uma generosa dose de inspiração vinda de Jane Austen, especialmente na maneira como revela os segredos mais profundos da nobreza e expõe seus medos e vulnerabilidades. Assim como Austen fez em “Orgulho e Preconceito”, o filme examina as ilusões e fraquezas da aristocracia, sem pretender oferecer uma solução utópica para os dilemas sociais. Contudo, ao invés de focar em críticas profundas, o longa se concentra em cenas iluminadas por uma suave luz de esperança, evitando a escuridão mental e revelando um novo tempo para os protagonistas, sem que necessariamente novos horizontes se abram de forma definitiva.


Filme: Downton Abbey 2: Uma Nova Era
Direção: Simon Curtis
Ano: 2022
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10