Durante a cerimônia de formatura de uma universidade, um grupo de amigos se encontra imerso em reflexões sobre alcoolismo, o peso das dívidas estudantis e as incertezas sobre o futuro. À medida que mergulham na vida adulta e enfrentam novas responsabilidades, eles debatem seus caminhos com diálogos que variam entre o trivial e o profundo, misturando observações cotidianas com questionamentos filosóficos. Cada conversa reflete os dilemas comuns dessa fase da vida, na qual a sensação de liberdade se choca com a pressão de tomar decisões que podem moldar o resto de suas existências.
“Tempo de Decisão”, dirigido por Noah Baumbach em sua estreia, com colaboração de Bo Berkman no roteiro, apresenta a trajetória de Grover, interpretado por Josh Hamilton, um aspirante a escritor que acaba de se formar. A trama começa com uma reviravolta pessoal: Jane (Olivia d’Abo), sua namorada, revela que está partindo para Praga, deixando Grover, que está a caminho de Nova York, devastado pela ideia de não seguir ao lado dela.
Paralelamente, os amigos de Grover — Otis (Carlos Jacott), Max (Chris Eigeman), Skippy (Jason Wiles) e Miami (Parker Posey) — lidam com suas próprias incertezas, sem demonstrar grande interesse em encontrar empregos convencionais. Eles temem seguir os passos de Chet (Eric Stoltz), um colega que, apesar de estar há 10 anos na universidade, parece estar estagnado.
O filme, aparentemente simples, é movido pelos diálogos inteligentes e perspicazes que dominam a narrativa. Baumbach explora a interação entre os personagens em seus últimos dias no campus, entrelaçando momentos de banalidade com observações profundas e instigantes. Mesmo em conversas aparentemente frívolas, ele insere nuances que exploram temas como envelhecimento e as pressões da vida adulta. Um exemplo emblemático disso é quando uma jovem, enquanto aguarda para entrar em uma balada, comenta que Grover, com 22 anos, já é “velho”, simplesmente por não precisar mais de identidade falsa.
O roteirista e diretor utiliza diálogos aparentemente banais para chegar a conclusões filosóficas e, por vezes, desoladoras. A genialidade de Baumbach reside em seu talento para transformar temas populares em questões intelectuais e vice-versa, criando um retrato complexo da juventude. Ele transita habilmente entre referências da cultura popular e reflexões mais profundas, construindo uma narrativa multifacetada que capta a essência das dúvidas existenciais dos personagens.
Entre as refeições e debates, os amigos de Grover também revisitam suas próprias atitudes, questionando a força de seus vínculos e o que realmente os mantém unidos. O filme sugere que as amizades na vida adulta não podem ser sustentadas apenas pela diversão; há uma necessidade crescente de propósitos compartilhados ou benefícios mútuos. Isso reflete as transformações pelas quais as relações passam à medida que os personagens amadurecem.
Os flashbacks de Grover com Jane adicionam uma camada emocional à história, mostrando um relacionamento repleto de romantismo idealizado. Jane, com sua maneira peculiar de lidar com desentendimentos — sempre pensando em respostas depois que a discussão já terminou — traz um toque de humor, doçura e vulnerabilidade à narrativa. Esses momentos não apenas destacam a dificuldade de comunicação no relacionamento, mas também evidenciam o contraste entre a vida emocional intensa de Grover e a frustração com suas próprias limitações.
Os personagens principais — Grover, Skippy, Chet, Max e Otis — estão mergulhados em crises existenciais, onde tudo parece estar à beira do colapso. Baumbach usa essas dinâmicas para expressar as ansiedades que ele mesmo provavelmente vivenciou, sendo ele próprio um jovem de 20 e poucos anos na época em que escreveu o filme.
Essa fase da vida, os vinte e poucos anos, é retratada com uma mistura de intensidade e vulnerabilidade. Os personagens se esforçam para se provar competentes, para demonstrar que podem enfrentar o mundo com maturidade e responsabilidade. No entanto, o tempo ensina que a vida nem sempre exige tanta seriedade. Aos poucos, eles percebem que os erros, as procrastinações e até mesmo o humor têm seu lugar no processo de crescimento.
“Tempo de Decisão” é uma comédia agridoce, que captura a essência de uma juventude em transição. O filme retrata um período de incerteza, no qual os personagens acreditam que suas escolhas são urgentemente decisivas, embora, na prática, a vida continue se desenrolando de forma imprevisível. Baumbach consegue transformar essa fase da vida, em que as pessoas ainda têm a oportunidade de explorar o desconhecido, em uma narrativa que ressoa tanto pela honestidade quanto pela nostalgia.
Filme: Tempo de Decisão
Direção: Noah Baumbach
Ano: 1995
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 9/10