Vencedor de 125 prêmios, incluindo 2 Oscars, filme que levou adultos e crianças às lágrimas nos cinemas está no Disney+ Divulgação / Disney Pixar

Vencedor de 125 prêmios, incluindo 2 Oscars, filme que levou adultos e crianças às lágrimas nos cinemas está no Disney+

Desde que Steve Jobs adquiriu a Pixar e a empresa lançou seu primeiro longa-metragem, “Toy Story”, ela tem deixado sua marca no cinema mundial. Não apenas por ser pioneira ao criar o primeiro filme totalmente feito com computação gráfica, mas também pela habilidade singular de contar histórias que tocam tanto adultos quanto crianças. As tramas da Pixar, além de criativas e inovadoras, têm profundidade e conseguem inspirar audiências diversas.

A continuidade dessa fórmula de sucesso foi amplamente garantida após a aquisição da Pixar pela Disney em 2006. Sob a nova administração, a Pixar alcançou resultados históricos, quebrando recordes de bilheteria com sequências altamente aguardadas de sucessos como como “Toy Story” e “Procurando Nemo”.

 “Soul”, animação disponível no Disney Plus, me foi amplamente recomendado desde seu lançamento. O filme, dirigido por Pete Docter, me fez refletir se ele é realmente voltado para crianças ou adultos, já que sua premissa filosófica mergulha profundamente em questões existenciais sobre o significado da vida. “Soul” aborda de forma delicada o tema da morte e explora, de maneira nada simplista, a transição entre vida e morte — e isso não é spoiler.

Os protagonistas, o músico de jazz Joe e a alma perdida 22, são interpretados brilhantemente por Jamie Foxx e Tina Fey, respectivamente. Antes de assistir ao filme, imaginei que seria uma história centrada na música, mas logo percebi que a trilha sonora é apenas uma ferramenta para tratar de algo muito maior: a própria essência da vida e da morte.

A trama acompanha Joe, um professor que, desde sempre, sonhou em fazer carreira como pianista de jazz. No dia em que finalmente tem a chance de realizar esse sonho, um acidente o faz perder a vida e sua alma é lançada em uma jornada pelo além. O pós-vida na animação é retratado com um jogo visual de luzes e sombras, onde Joe, ainda preso à vida, tenta de todas as maneiras retornar ao seu corpo para viver seu sonho.

Nesse mundo espiritual, Joe conhece 22, uma alma que nunca encontrou um propósito e, por isso, nunca desceu à Terra. Rebelde, 22 já teve diversos mentores — desde grandes figuras históricas, como George Orwell e Gandhi, até psicólogos como Jung — mas nenhum deles conseguiu ajudá-la a descobrir seu propósito.

A narrativa ganha profundidade à medida que Joe tenta retornar à vida e, nesse processo, ajuda 22 a encontrar um sentido para sua existência. Porém, ironicamente, essa jornada acaba por ensinar a Joe algo fundamental: o propósito de nossa vida não é simplesmente seguir nossos talentos ou paixões. Ao contrário, está mais ligado a como impactamos as pessoas ao nosso redor, como deixamos uma marca positiva na vida dos outros. Esse conceito ecoa a filosofia africana do “ubuntu”, que significa “eu sou porque nós somos” — uma bela reflexão sobre nossa interdependência.

A trilha sonora impecável é assinada por Trent Reznor e Atticus Ross, conhecidos pelo trabalho no Nine Inch Nails, e dá o tom perfeito às cenas emocionantes e aos momentos de introspecção do filme. A direção de Pete Docter, que também esteve à frente de “Monstros S.A.”, é igualmente primorosa, trazendo um equilíbrio perfeito entre leveza e profundidade.

“Soul” não é apenas uma animação sobre a morte ou a vida após a morte. É uma reflexão sobre o que realmente importa enquanto estamos vivos. A mensagem de que nossa existência ganha sentido pelas conexões que criamos com as pessoas ao nosso redor faz deste filme uma experiência envolvente e inesquecível.


Filme: Soul
Direção: Pete Docter e Kemp Powers
Ano: 2020
Gênero: Animação/Drama/Comédia
Nota: 10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.