Deus não está morto: filme na Netflix é uma resposta ao niilismo de Nietzsche em defesa da fé Divulgação / Fox Nation

Deus não está morto: filme na Netflix é uma resposta ao niilismo de Nietzsche em defesa da fé

Se Deus não existe, então tudo é permitido. Com a frase, uma síntese meio ligeira do que diz Ivan, o intelectual atormentado por temas metafísicos de “Os Irmãos Karamazov” (1879), Fiódor Dostoiévski (1821-1881) quis instigar no leitor a necessidade da reflexão acerca de um dos grandes mistérios da condição humana, estabelecendo também sua inescapável relação com a moral, que deve prevalecer sobre qualquer toda crença, o que nem sempre ocorre. A universidade não é exatamente o lugar mais inspirador para se ponderar acerca dos infinitos meandros onde se escondem as particularidades da relação entre o homem e o sagrado, o que quase nunca se revela, e é por esse atalho que “Deus Não Está Morto” quer chegar ao coração do espectador. Harold Cronk junta fé, anseios por respostas, certezas que alguns têm, dúvidas a que outros tantos não renunciam e, claro, a ciência, fria, mas não impassível, em meio a tamanho enrosco.

Quanto mais tomamos pé da realidade, mais o mundo se nos revela um lugar especialmente hostil, onde passamos a ser forçados a medir cada palavra e estudar todo gesto, sob pena de arcar com consequências pesadas demais, de perder o sagrado direito de denunciar o pouco que conseguimos absorver da perversidade sem fim que há no mundo. Ninguém pode se dizer a salvo da maldade invencível dos tantos lobos em pele de cordeiro que nos encurralam em circunstâncias entre absurdas e perigosas. As coisas mais valiosas decerto são as mais secretas. A possibilidade de se dizer o que se pensa, sem medo de patrulhas de quaisquer ordens, é sem dúvida a melhor dádiva dos regimes democráticos, o pior dos sistemas de governo, à exceção de todos os outros. A arguta observação de Churchill cai feito uma luva para casos como o de Josh Wheaton, um calouro que se torna uma espécie de lenda na fictícia Hadleigh University, na Louisiana, graças a um entrevero com o professor Jeffery Radisson, um ateu convicto bastante confortável em seus arroubos ditatoriais. O roteiro de Hunter Dennis, Chuck Konzelman e Cary Solomon vai e volta no argumento central, dando todos os elementos para que cada um dos personagens defenda seu ponto de vista, até que, por óbvio, a razão é subjugada pelo que o homem não explica. O carisma de Shane Harper mantém as coisas funcionando na história, ao passo que ar circunspecto de Kevin Sorbo conduz o público para uma única conclusão lógica: Deus só existe para quem Nele crê.


Filme: Deus Não Está Morto
Direção: Harold Cronk
Ano: 2014
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.