Você vai rir por 80 minutos: comédia que acaba de chegar à Netflix vai deixar seu dia melhor Divulgação / Focus Features

Você vai rir por 80 minutos: comédia que acaba de chegar à Netflix vai deixar seu dia melhor

Em meados dos anos 1990, cavalheiros solitários tinham ao alcance da mão um aliado fiel para despistar o tédio e, quem sabe, garantir algum prazer durante uma noite sem fim. Os serviços de telessexoviraram febre nos Estados Unidos, e até que expandissem suas atividades para outras plagas, muita gente teve de vender as cuecas para pagar a conta de telefone, mas tudo por um bom momento de diversão exótica. Há maneiras e maneiras de se falar das trapaças do destino, e “Para Se Divertir, Ligue…” escolhe essa, bastante original, há que se convir. Duas ex-inimigas de faculdade, experimentando cada qual dificuldades financeiras muito pessoais, se juntam passada uma década a fim de driblar a iminência do despejo de uma, expulsa do apartamento em que vivia há dois anos porque o namorado vai para Itália, e a falência da outra, agora incapaz de bancar sozinha um palacete em Gramercy Park, um bairro nobre de Nova York, onde mora com a avó inválida. Jamie Travis vai fundo no nonsense, deixando que suas estrelas seduzam a plateia com improvisos certeiros, matéria-prima de muito quanto há de surpreendente aqui. 

Cada um vive como lhe apetece. Enquanto uns só se animam a sair da cama se o destino for a geladeira, outros não se sentem como se a vida estivesse sendo desperdiçada da maneira mais imperdoável caso não possam lançar-se a uma ou outra peripeciazinha de quando em quando. Casamentos acabam, como também chegam ao fim amizades, namoros, casos e sociedades. Respeitar os ciclos da vida, a natureza única de certas relações, aceitar que em cada uma há mistérios que talvez nunca se revelem, desejos confusos, ambições megalômanas, é um passo firme, decisivo, no rumo da felicidade, que surge para cada um do jeito que só ela entende. Malgrado toda a infelicidade que pode existir no estar no mundo, uma ideia se reveste da aura de verdade absoluta quando se fala em vida ou morte: ao menor sinal de aperto, quase todos nós decidimos pela primeira, não obstante sintamos a ubiquidade mordaz da indesejada das gentes a nos perscrutar, quase sempre covarde, por mais que nos escondamos.

Lauren e Katie refazem um vínculo estranho, uma vez que nunca foram amigas, e portanto nunca tiveram de confiar suas vidas uma a outra, tampouco precisaram do apoio, do carinho ou da compreensão que pudessem se oferecer. Tudo muda com a súbita necessidade, e as roteiristas Katie Anne Naylon e Lauren Miller Rogenconfiam a Lauren Miller e Ari Graynor a tarefa de segurar o público o máximo que puderem. As passagens em que estão as duas lado a lado, usando um telefone de disco cor-de-rosa são impagáveis, e Jesse, o amigo gay interpretado por Justin Long, o único elo possível entre esses universos paralelos, acrescenta humor e picardia a um enredo formulaico, com ilações rasas sobre feminismo e mudanças de comportamento e até da perspectiva moral que jamais tem a intenção de poupar a mulher. Em “Para Se Divertir, Ligue…”, a linha continua ocupada.


Filme: Para Se Divertir, Ligue…
Direção: Jamie Travis
Ano: 2012
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 7/10