Baseado em um dos maiores clássicos da literatura do século 19, comédia suave com Gwyneth Paltrow está na Netflix Divulgação / Miramax

Baseado em um dos maiores clássicos da literatura do século 19, comédia suave com Gwyneth Paltrow está na Netflix

Emma Woodhouse, um dos personagens mais icônicos de Jane Austen, é marcada por sua complexidade psicológica e sua singularidade dentro do universo literário criado pela autora. Publicado em 1815, o romance “Emma” reflete a sociedade inglesa de uma época em que as mulheres tinham pouca autonomia, especialmente na escolha de seus maridos, estando sujeitas às convenções sociais rígidas.

Com sua habitual sagacidade, Austen constrói Emma de forma a satirizar as jovens aristocráticas de sua era. Embora seja a protagonista da história, Emma está longe de representar a típica heroína virtuosa. Sua confiança excessiva e sua posição social favorecida a incentivam a interferir nos relacionamentos amorosos de amigos e conhecidos, muitas vezes impondo sua vontade sobre aqueles de classes sociais inferiores, o que revela um lado arrogante e manipulador.

Apesar de suas falhas evidentes, Emma não é desprovida de carisma. Sua sinceridade, que em alguns momentos beira a insensibilidade, é uma característica que ela mesma considera uma virtude, mas que nem sempre é recebida de forma positiva pelos outros. Ao mesmo tempo, Emma se mostra uma personagem forte e, em certa medida, desafiadora das expectativas sociais que limitavam a liberdade feminina no início do século 19.

A adaptação cinematográfica de “Emma”, dirigida por Douglas McGrath em 1996, é considerada uma das versões mais clássicas e respeitadas da obra. Disponível na Netflix, o filme traz Gwyneth Paltrow no papel principal, capturando com maestria a complexidade da personagem.

Curiosamente, Paltrow não era a primeira escolha para o papel, mas sua interpretação acabou sendo vista como ideal para retratar Emma com a combinação certa de charme e falhas humanas. Ao comparar essa versão com a adaptação de 2020, estrelada por Anya Taylor-Joy, o filme de McGrath se destaca por seu humor refinado e uma abordagem mais leve, que enfatiza o lado cômico do romance de Austen.

O longa-metragem de 1996 recebeu aclamação da crítica e foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora Original, levando o prêmio por sua trilha sonora. A vitória foi um marco significativo, pois representou a primeira vez que uma mulher ganhou na categoria de Melhor Trilha Sonora Original. Esse reconhecimento reforçou o valor da adaptação, tanto em termos estéticos quanto técnicos.

Em uma entrevista, Douglas McGrath compartilhou que havia inicialmente cogitado ambientar a história de *Emma* em um contexto moderno, ambientando a trama em Nova York. No entanto, após o lançamento de “As Patricinhas de Beverly Hills” — uma adaptação livre e contemporânea da obra de Austen — McGrath decidiu manter-se fiel ao cenário original da história. Fascinado pelo romance desde seus dias de estudante na Universidade de Princeton, ele optou por uma interpretação que preservasse o charme do período em que a narrativa foi escrita.

Emma Woodhouse, desde a sua criação, continua a cativar tanto leitores quanto espectadores com sua profundidade e trajetória de crescimento pessoal. O arco narrativo da personagem, que vai de uma jovem autossuficiente a alguém capaz de reconhecer seus próprios erros, é um testemunho do talento de Jane Austen em criar figuras que transcendem as barreiras temporais.

Através de Emma, Austen realiza uma crítica sutil, porém contundente, das normas sociais de sua época, ao mesmo tempo em que oferece uma reflexão que permanece relevante até os dias de hoje. O retrato de Emma, com todas as suas imperfeições e qualidades, reforça a capacidade de Austen de explorar, com humor e inteligência, as nuances das relações humanas e as tensões entre classes sociais.


Filme: Emma
Direção: Douglas McGrath
Ano: 1996
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.