Recordista de bilheteria: o dorama mais esperado de 2024 já está na Netflix Divulgação / Netflix

Recordista de bilheteria: o dorama mais esperado de 2024 já está na Netflix

Um casal de proletários distribui panfletos numa estação de trem diante de um repórter e seu cinegrafista. Numa só tomada, Keisuke Yoshida põe à mesa os dois assuntos mais espinhosos de que pretende tratar em “Desaparecimento”, um thriller sobre a insignificância de famílias pobres diante das urgências da sociedade do espetáculo, sempre ávida por entretenimento abundante a preços módicos, a despeito da integridade moral alheia. Expoente dos mais vultosos do novíssimo cinema nipônico, Yoshida amalgama tragédia pessoal, jornalismo irresponsável, redes sociais como trampolim de aventureiros e escroques de todas as naturezas numa história orgulhosamente melancólica, que se vai desdobrando em episódios ainda mais sombrios, sem lugar para a esperança. O diretor-roteirista frisa esses elementos tão contemporâneos para em seguida ligá-los ao que pode haver de mais primitivo no comportamento humano, obtendo um resultado inaudito.

Yutaka e Saori seguem sua rotina estoicamente, lamentando o sumiço da filha vez ou outra. Yoshida vale-se desse gancho para incluir na trama a suspeita sobre Keigo, o irmão de Saori, que ganha ares de um possível criminoso por ter estado com a garota por último. Munetaka Aoki, Satomi Ishihara e Yusaku Mori deixam o público de sobreaviso quanto a uma reviravolta, em que o diretor só entra ao cabo desse minucioso estudo de personagens. Enquanto isso, prefere, acertadamente, fixar-se no calvário de Saori, que não para de ouvir diatribes as mais violentas por ter estado num show depois da criança já perdida. É aí que entra Tomoya Nakamura na pele de um repórter consciente, mas que se rende às demandas de chefes selvagens, empenhados em requentar o caso, numa exposição da força do sensacionalismo mundo afora.

O filme é mais que ilações sobre as angústias da vida a dois, sempre a um passo do despenhadeiro depois que os filhos aparecem. Yoshida tem o condão de fazer com que seu longa se equilibre entre esse arco dramático e um ainda mais tenso, mergulhando fundo no modo de trabalho de um estrato rasteiro do jornalismo — no Japão, mas não só. No terceiro ato, o mocinho de Nakamura se bate com sua consciência, talvez até lamentando seu excesso de zelo profissional ao passo que um colegamais jovem e dado a sabujices ao chefe é promovido graças a uma reportagem de gosto duvidoso. A fotografia luminosa ameniza a fúria dos diálogos, mas deixa claro que o tormento de Saori também é nosso.


Filme: Desaparecimento
Direção: Keisuke Yoshida
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Thriller 
Nota: 8/10