Drama épico belíssimo que ficou no Top 3 mundial da Netflix na semana de estreia Larry Horricks / Netflix

Drama épico belíssimo que ficou no Top 3 mundial da Netflix na semana de estreia

O verdadeiro foco em “A Escavação” repousa sobre o passado e o seu impacto sobre o presente. Baseado no romance “The Dig” de John Preston, publicado em 2007, a adaptação cinematográfica dirigida pelo australiano Simon Stone revela a complexa beleza de Edith Pretty, uma mulher com uma intuição extraordinária, que a impulsiona a superar montanhas de adversidade para encontrar novos significados em sua vida após uma grande perda.

Carey Mulligan dá vida a Edith com uma dignidade que ressalta a profundidade do seu papel, ao mesmo tempo que explora seu interesse por temas relacionados à doutrina espírita.

Edith, a viúva que agora vive em uma vasta propriedade, tem dedicado sua vida ao filho Robert e precisa rever seu caminho após a morte de seu marido. Seu instinto, desenvolvido desde a infância para enfrentar adversidades, sugere que há algo mais profundo e significativo enterrado sob o solo da sua casa.

Convencida de que a terra guarda um segredo valioso, ela permite que Basil Brown, um arqueólogo autodidata e diletante, comece a escavar em busca de vestígios de uma civilização viking na Inglaterra, uma ideia que Brown baseia mais em intuições do que em provas concretas.

O conceito de tesouros escondidos serve como uma metáfora poderosa para as dores internas de Edith, que, inicialmente resignada a viver uma vida sem perspectivas, é despertada por uma nova esperança. Com o início das escavações, Brown descobre três sepulcros em um pequeno monte de terra.

A escavação avança, revelando um navio enterrado que, conforme as pesquisas recentes, pertenceu ao rei Raedwald, que governou em torno de 624 d.C., durante o Império Bizantino. O navio, utilizado para armazenar pertences do monarca, também carregava seu cortejo fúnebre, um eco das tradições funerárias egípcias, em um contexto de três mil anos antes de Cristo. Raedwald, conhecido como o “Tutancâmon britânico”, tinha uma relação complexa com a religião, tendo se convertido ao cristianismo, mas continuando a seguir práticas pagãs, um aspecto raro na história britânica.

À medida que a escavação avança, os protagonistas, Edith e Basil, enfrentam seus próprios demônios. Edith, ainda em luto pela perda do marido e agora confrontada com uma doença terminal, lida com a culpa e a sensação de responsabilidade por sua condição, a qual ela acredita ter atraído para si mesma.

O filme sugere a possibilidade de que a doença de Edith possa ser uma forma de somatização da perda, uma tentativa de se reconectar com seu falecido marido, ainda que isso signifique deixar seu filho Robert desamparado. Basil, por outro lado, enfrenta a rejeição e a desvalorização de seu trabalho por não possuir uma formação acadêmica formal, apesar de seu profundo envolvimento e competência.

A narrativa sugere que, apesar da inevitabilidade da morte, é possível enfrentar a vida com dignidade e encontrar significado além das aparências. O filme nos lembra de que o valor da vida não está apenas no que é visível, mas nas escolhas que fazemos e na maneira como enfrentamos nossas perdas.


Filme: A Escavação
Direção: Simon Stone
Ano: 2021
Gênero: Drama
Nota: 9/10