Quando da estreia de “Sob o Mesmo Céu”, o diretor-roteirista Cameron Crowe andou dando coletivas de imprensa alegando que seu novo filme era, antes de mais nada, um hino de amor ao Havaí. Bem, tirando-se a vontade de surfar uma onda politicamente correta qualquer, o filme de Crowe é vago, confuso, algo dissimulado e, o pior, deixa a impressão de que não tem muita certeza do que quer dizer. A história de um ex-militar que volta àquele apêndice dos Estados Unidos no Pacífico Central depois de uma pletora de equívocos na vida pessoal, como o consultor técnico de um bilionário que fez fortura no ramo da segurança privada teria o condão de alcançar as camadas mais viscerais da história se fosse um pouco menos artificioso. O intento de Crowe quanto a tratar de dois amores, um do passado e outro iminente, a partir do reencontro do protagonista consigo mesmo e mirando a luta do Havaí por autonomia como pano de fundo, esbarra no desprezo por uma questão óbvia.
Brian Gilcrest vai vistoriar uma nova transação de Carson Welch a bordo do voo cujo piloto, John Woodside, o Woody, é, por uma dessas ironias muito próprias do cinema, o marido de uma ex-namorada. Em polos inversos, Bill Murray e John Krasinski são as grandes boas surpresas do longa, cada qual com sua personalidade cativante. Welch e Woody aparecem com mais destaque no segundo ato, e enquanto isso, Bradley Cooper é imbuído da missão inglória de conferir alguma substância dramática a um tipo raso, moralmente tíbio, que parece esconder-se por trás das lembranças nefastas que guarda do tempo em que serviu no Afeganistão. Ao desembarcar, quase tropeça em Tracy Woodside, a tal ex, que aparece mais ao lado dele que do marido, e não se furta a convidá-lo a jantar com a família. Entre um e outro pensamento digressivo, Gilcrest se pega tendo de driblar a bajulação superprotetora de Allison Ng — sem dúvida a figura que encerra mais problemas nessa incansável comédia de erros —, a capitã da 15ª Brigada Aérea americana que faz a escolta de Gilcrest num convescote num vilarejo de nativos. Pelo sobrenome, percebe-se que Ng tem ilhéus entre seus ancestrais; então… por que Emma Stone?!
Tudo quanto se desenrola até o encerramento é bastante previsível, inclusive uma filha de Gilcrest da qual ele jamais soube (será?), e Alec Baldwin na pele do general Dixon, outra de suas interpretações protocolares, dá sono. O coronel Lacy de Danny McBride, por seu turno, oferece providenciais respiros cômicos, mas que também esgotam-se rápido. Uma passagem em que alguém um bar lotado põe para tocar “EverybodyWants to Rule the World” (1985), o clássico do Tears for Fears, ameniza o estrago. Decerto porque Crowe se lembra de seu currículo como jornalista especializado em rock.
Filme: Sob o Mesmo Céu
Direção: Cameron Crowe
Ano: 2015
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 7/10