Aplaudido de pé no Festival de Toronto, filme baseado em tragédia real e desesperadora está na Netflix Divulgação / Summit Entertainment

Aplaudido de pé no Festival de Toronto, filme baseado em tragédia real e desesperadora está na Netflix

Peter Berg tem dedicado sua carreira a explorar as transformações que moldaram os Estados Unidos ao longo das últimas duas décadas, começando com os eventos de 11 de setembro de 2001. Naquele dia, as torres do World Trade Center, que simbolizavam a força do capitalismo americano, foram destruídas por um ataque terrorista orquestrado por Osama bin Laden, então aliado de longo prazo. Bin Laden foi morto uma década depois em uma operação militar dos EUA no Paquistão, encerrando um capítulo turbulento da história contemporânea.

Esta nova realidade, marcada por caos e violência, tornou-se um tema recorrente em seus filmes. Em “Horizonte Profundo: Desastre no Golfo”, Berg oferece uma análise crítica, embora involuntária, da ganância corporativa que ignora protocolos de segurança, resultando em mortes e danos ambientais extensivos. O filme revela a maneira como os responsáveis pela catástrofe tentam obstruir investigações, intimidar vítimas e manipular testemunhas, criando um cenário de corrupção e negligência.

Os roteiristas David Barstow, Matthew Michael Carnahan e Matthew Sand trabalham para desmascarar a impessoalidade dos envolvidos, apresentando a tragédia de uma forma que se assemelha mais a um documentário investigativo do que a uma narrativa convencional. A abordagem detalhista e meticulosa resulta em um relato que poderia muito bem servir como evidência em futuras audiências, apesar das boas atuações do elenco.

Antes disso, Berg havia alcançado reconhecimento com “O Dia do Atentado” (2016), onde retratou os irmãos Tsarnaev, responsáveis pelo ataque na Maratona de Boston em 2013. O filme analisou os motivos e o impacto do atentado, com atuações notáveis de Alex Wolff e Themo Melikidze.

Em “Horizonte Profundo”, Berg mantém seu compromisso com uma técnica rigorosa, que, apesar de eficaz em algumas áreas, pode enfraquecer a narrativa em outras. A história se centra na família Williams, liderada por Mike, um trabalhador ausente frequentemente devido à sua ocupação em uma plataforma de perfuração no Golfo do México, e sua esposa Felicia, que assume as responsabilidades domésticas durante sua ausência.

Mark Wahlberg e Kate Hudson, embora possuam uma química convincente, raramente têm a oportunidade de interagir devido à estrutura do filme. O enredo se desloca para a plataforma, onde os personagens são apresentados de forma estereotipada, com Jimmy Harrell, interpretado por Kurt Russell, como o veterano afável, e Andrea Fleytas, vivida por Gina Rodríguez, como a estagiária idealista. No entanto, a figura de Donald Vidrine, interpretada por John Malkovich, destaca-se como o arquétipo do capitalista impiedoso, lembrando o Dick Cheney de Christian Bale em “Vice” (2018), e enfatizando o papel destrutivo do lucro desenfreado.

Na segunda metade do filme, Berg mergulha nos aspectos técnicos da catástrofe, abordando questões complexas como a pressão em compartimentos reduzidos e o estado precário da plataforma e dos equipamentos de segurança. Embora essas discussões possam ser de difícil compreensão para o público geral, elas ilustram a gravidade da situação.

Wahlberg e Russell dominam as cenas intensas, com Wahlberg supostamente realizando muitas das suas próprias acrobacias. As sequências de ação são visualmente impressionantes, retratando a explosão que causou a morte de onze trabalhadores, ferimentos em dezessete outros, e um prejuízo econômico colossal. A catástrofe também provocou um desequilíbrio ambiental cujas repercussões ainda não foram totalmente avaliadas. Apesar das limitações do filme, Berg tentou capturar a magnitude do desastre, enfrentando um desafio colossal em sua tentativa de retratar a complexidade do evento.


Filme: Horizonte Profundo: Desastre no Golfo
Direção: Peter Berg
Ano: 2016
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10