Suspense perfeito para fãs de literatura, com Christian Bale, na Netflix Scott Garfield / Netflix

Suspense perfeito para fãs de literatura, com Christian Bale, na Netflix

A solidão transcende a simples necessidade de estar sozinho. Em momentos decisivos da vida, sejam para figuras proeminentes ou para indivíduos comuns, é essencial se retirar do mundo, ainda que brevemente, para realizar feitos extraordinários. Precisamos esquecer muitas coisas para reter o essencial; é necessário mergulhar nas profundezas de nosso ser para discernir o caminho a seguir. Este é o princípio subentendido em “O Pálido Olho Azul”, uma narrativa que vai além do tradicional suspense.

Scott Cooper, ao empregar elementos técnicos sofisticados, reaviva o fascínio por um dos mais ousados autores da literatura, enquanto evita o lugar-comum ao focar nos detalhes que cativam o espectador, seja através do olhar ou das palavras. A fotografia de Masanobu Takayanagi não deixa dúvidas sobre as intenções de Cooper, transportando o público para o cenário gótico e encantador do Vale do Hudson, nas proximidades de Nova York em 1830, durante um inverno severo, e imbuindo a atmosfera com um toque particularmente sombrio.

Baseado em um romance de Louis Bayard, o roteiro do diretor utiliza o clima frio para que seus personagens se movam em ambientes imersos nessa beleza sombria que provoca tanto medo quanto fascínio. Takayanagi congela o público em uma atmosfera de pânico, angústia e encantamento, enquanto Cooper apresenta a trama elaborada de maneira opulenta. No recém-estabelecido Academia Militar de West Point, o corpo de um cadete chamado Fry é encontrado.

O que inicialmente parecia ser um suicídio rapidamente se transforma em um enigma que Cooper explora com profundidade ao longo de mais de duas horas. O assassino exibe um fetiche doentio e engenhoso, perpetuado por um método meticuloso. Nesse contexto, entram na trama Augustus Landor, interpretado por Christian Bale, um eremita cuja filha foi viver com um namorado, e, surpreendentemente, Edgar Allan Poe (1809-1849), retratado como um jovem oficial que se dedica à poesia com um estilo quase criminoso, um trocadilho inevitável.

É a experiência poética de Poe que aponta o possível criminoso, e, ao lidar com essa necessidade de fechamento, Cooper se dedica a explorar as nuances do filme, concentrando-se na relação entre Landor e o Homem da Machadinha. A performance de Harry Melling, com sua intensidade quase mediúnica, provoca risos e lágrimas, ao retratar um personagem tão furtivo quanto um gato negro, que compreende e se reflete na figura de seu parceiro. Conforme a solução do crime se aproxima, a profundidade da alma atormentada de um gênio, enclausurado em sua própria mente, se revela através das suas meditações poéticas sobre “Lenore” (1843) — destacadas em uma cena com Lea Marquis, interpretada por Lucy Boynton — esclarecendo sua angústia essencial e, por conseguinte, o título do filme.


Filme: O Pálido Olho Azul
Direção: Scott Cooper
Ano: 2022
Gêneros: Thriller/Mistério
Nota: 9/10