Thriller com Chris Hemsworth que ficou no Top 10 da Netflix em 97 países Divulgação / Netflix

Thriller com Chris Hemsworth que ficou no Top 10 da Netflix em 97 países

Distopias, como exemplificado em “Spiderhead”, frequentemente assumem um caráter quase instrutivo. Sob a superfície de suas narrativas delirantes e por vezes ridículas, encontram-se verdades profundas que, frequentemente, preferimos ignorar. Estas histórias abordam as realidades inquietantes que enfrentamos em um cenário cada vez mais homogêneo.

Ao examinar temas paralelos — como as emoções intensas e perigosas que moldam nossa jornada — o filme dirigido por Joseph Kosinski, conhecido por “Top Gun: Maverick” (2022), explora a tendência destrutiva e autodestrutiva do ser humano em transformar seu entorno, sua biologia e sua forma de compreender o mundo.

Como Schopenhauer observou há dois séculos, essa tentativa de transformar o ambiente e a própria natureza acaba, muitas vezes, resultando em sua própria ruína, devido à incapacidade de fazer escolhas acertadas.

“Escape From Spiderhead”, um conto de George Saunders publicado em 2010, narra a história de prisioneiros que consentem em se tornar cobaias para um experimento que visa criar um medicamento para preencher o vazio emocional de vidas sem propósito.

Kosinski traduz a essência fatalista do conto de Saunders em imagens carregadas de intensidade e um toque de humor, evidenciando o objetivo oculto (mas não exatamente dissimulado) de uma organização aparentemente benevolente que, no futuro próximo, busca controlar e monitorar prisioneiros propensos à discórdia.

Inspirando-se em “1984” de George Orwell, os personagens são constantemente vigiados por câmeras que capturam cada detalhe, especialmente durante suas participações voluntárias nas experiências conduzidas por Steve Abnesti, um bilionário que não só financia como também comanda a loucura com uma rigidez autoritária.

Chris Hemsworth se destaca como Abnesti, um antagonista intrigante e sinistramente carismático, em um esforço para solidificar seu papel em dramas e elevar sua carreira a um novo patamar — um objetivo que ele já havia perseguido em “Rush — No Limite da Emoção” (2013).

Semelhante ao desempenho que fez em filme de Ron Howard, Hemsworth consegue eclipsar os excelentes coadjuvantes, alçando a narrativa adaptada da obra de Saunders, que parecia inadaptável, a um impressionante feito cinematográfico graças ao trabalho dos roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick.

No enredo, os testes são organizados de maneira metódica, como uma cartela de bingo, exigindo uma generosa dose de licença poética da audiência. Faltando apenas a experiência com a substância N40, que promete revelar os riscos doces do amor, o experimento continua sem grandes obstáculos até que Heather, interpretada por Tess Haubrich, demonstra uma resistência inesperada.

Essa resistência se torna o catalisador que leva Jeff, interpretado por Miles Teller, a se afastar da equipe. Com sua saída, o relacionamento entre Lizzy, interpretada por Jurnee Smollett, e o personagem de Teller começa a se desenvolver de forma visceral e genuína, sem artifícios.

Kosinski, com sua carreira promissora, confirma sua habilidade com “Spiderhead”, um filme que combina uma direção de atores eficaz com efeitos visuais avançados. O resultado é um filme perturbador, que poderia se beneficiar de uma sequência para explorar ainda mais suas complexas e provocativas temáticas.


Filme: Spiderhead
Direção: Joseph Kosinski
Ano: 2022
Gêneros: Ação/Ficção científica/Mistério
Nota: 9/10