Dê-se um presente: reserve 80 minutos para assistir a este pequeno filme adorável na Netflix Divulgação / Mares Filmes

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A vida tem um fim inevitável, mas as escolhas que fazemos ao longo dela têm o poder de ecoar além do término da existência terrena. Este é um ponto de partida crucial para discutir o filme “Amigas Improváveis” (2019), dirigido pela sino-canadense Aisling Chin-Yee.

Este longa-metragem, centrado em quatro mulheres e dirigido por uma mulher, inevitavelmente oferece uma perspectiva feminina sobre as relações e o mundo. Tal enfoque pode ser visto como tendencioso, algo que se reflete em diversos momentos da trama. No entanto, é importante reconhecer que produções dominadas por uma perspectiva masculina frequentemente perpetuam comportamentos obsoletos, ignorando a recente evolução da emancipação feminina. Muitas mulheres, que sempre trabalharam desde cedo por necessidade e não por opção, não se veem representadas por histórias de protagonistas que tiveram acesso à educação e oportunidades desde a juventude. “Amigas Improváveis” destaca-se ao abordar um grupo social que muitas vezes escapa das estatísticas e do foco sociológico, oferecendo um olhar sobre essas vidas frequentemente ignoradas.

A narrativa gira em torno de Craig, um homem cuja presença é sentida mesmo que apenas na forma de um retrato pendurado na recepção após seu funeral. Craig representa o tipo de indivíduo que, ao buscar recomeçar sua vida através de um novo casamento, deixa para trás um legado de dor, confusão e silêncios. Com a morte de Craig, surgem não apenas questões emocionais, mas também problemas práticos e financeiros. Seus dois relacionamentos resultaram em filhas: Aster, filha de seu primeiro casamento com Cami, interpretada por Heather Graham, e Talulah, fruto de seu segundo relacionamento com a instável Rachel, representada por Jodi Balfour. A dinâmica entre as filhas é marcada por suas diferenças e pela falta de conexão significativa, refletindo as escolhas imprudentes de Craig.

O roteiro de Alanna Francis expõe a imaturidade das mulheres, que, apesar de serem forçadas a lidar com a vida de maneira prática, falham em assumir a responsabilidade por suas escolhas, optando por culpar Craig, o homem que deveria ter sido amoroso. A dificuldade em enfrentar a vergonha e o sentimento de culpa, muitas vezes mascarado por rancor e ódio, impede um verdadeiro avanço. A falta de comunicação entre Aster e Talulah, determinadas por Craig, revela uma desconexão que se torna evidente à medida que a história avança.

A trama ressalta a culpa e o desconforto de encarar as consequências de decisões erradas, refletindo a dificuldade em encontrar sentido e redenção. A interação entre Cami e Rachel revela uma dinâmica complexa, onde a animosidade inicial evolui para uma forma de entendimento, apesar das diferenças. A interpretação de Graham e Balfour é notável, demonstrando uma química que contribui para a profundidade emocional da narrativa.

A verdadeira irmandade feminina começa a se manifestar somente após a metade do filme. A relação entre Cami e Rachel, marcada por um conflito intenso, evolui para um sentimento de compreensão mútua. Simultaneamente, Aster e Talulah desenvolvem uma amizade genuína, superando a conexão sanguínea que as unia. A história de “Amigas Improváveis” revela que, às vezes, as verdadeiras conexões são formadas não pelo sangue, mas pela capacidade de superar adversidades e encontrar empatia.


Filme: Amigas Improváveis
Direção: Aisling Chin-Yee
Ano: 2019
Gêneros: Drama
Nota: 9/10