Baseado na corrente filosófica do utilitarismo, filme da Netflix vai dar um nó no seu cérebro

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À medida que o ser humano avança em sua trajetória, cresce também o desejo de expandir seus horizontes além das suas limitações naturais. Essa ambição, aparentemente inofensiva, desencadeia uma série de desdobramentos e imprevistos que frequentemente o fazem confrontar os próprios sonhos. Em “Passageiro Acidental”, o diretor Joe Penna, conhecido por “Ártico” (2018), explora profundamente essa dinâmica ao focar em um grupo de astronautas em uma arriscada jornada a Marte. A produção aposta pesadamente em efeitos tecnológicos para garantir a credibilidade, mesmo enquanto se desvia para outras questões centrais como o nosso eterno fascínio pelo desconhecido.

O filme acompanha Zoe Levenson, David Kim e a comandante Marina Barnett em uma expedição pela galáxia. A jornada, que para muitos poderia ser a realização de um ideal de perfeição e prazer absoluto, logo revela tensões e desafios. A performance de Anna Kendrick, Daniel Dae Kim e Toni Collette é envolvente, mas logo no início surgem diálogos que indicam problemas iminentes, um erro notável na edição de Ryan Morrison. A atriz Toni Collette, apesar de não ser unanimidade, oferece uma interpretação lúcida ao questionar a necessidade de abortar a missão e examinar Marte em busca de condições para uma possível colonização futura. Conforme a Terra diminui no horizonte, o roteiro, escrito por Penna e Morrison, mergulha em questões filosóficas, com Kim tentando resolver os dilemas com soluções pragmáticas.

A chegada de Michael Adams, interpretado por Shamier Anderson, é um ponto crucial da trama. Sua presença, inesperada e ambígua, traz uma nova dinâmica ao filme, simbolizando tanto a possibilidade de transformação quanto o perigo iminente. Penna utiliza bem essa ambiguidade para explorar temas de mudança e destruição.

No entanto, o sucesso do filme não está apenas na narrativa, mas também na maneira como Penna equilibra os elementos técnicos. As críticas à presença de Adams são válidas, mas é importante destacar como Penna usa a fotografia de Klemens Becker para criar um ambiente claustrofóbico. Becker utiliza iluminação intensa para contrastar com os momentos de tensão e utiliza tons frios de azul e verde para destacar os conflitos crescentes entre os personagens.

Embora “Passageiro Acidental” exiba elementos de histrionismo e momentos de desempenho irregular, especialmente por parte de Collette, o filme oferece uma rica experiência estética e uma abordagem ousada. Comparado a “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968), a falta de genialidade de Kubrick é parcialmente compensada pela coragem de Penna em explorar novas ideias.


Filme: Passageiro Acidental
Direção: Joe Penna
Ano: 2021
Gêneros: Ficção científica/Suspense/Drama
Nota: 8/10