Com aprovação de 91% no Rotten Tomatoes, thriller de ação visto por 15 milhões na semana de estreia está na Netflix Yoo Eun Mi / Netflix

Com aprovação de 91% no Rotten Tomatoes, thriller de ação visto por 15 milhões na semana de estreia está na Netflix

Lee Chung-hyun, com apenas 33 anos, já demonstra grande talento e potencial na indústria cinematográfica sul-coreana. Após o sucesso de “A Ligação”, o diretor volta à cena com “A Bailarina”, um thriller de ação estrelado por Jeon Jong-seo, que também é sua parceira na vida real. Esse relacionamento, segundo o próprio Lee, favoreceu a dinâmica no set de filmagem, facilitando a troca de ideias e alinhamento de visões sobre o papel, tornando a colaboração mais fluida e direta.

Produzido pelo Climax Studio, “A Bailarina” teve sua produção anunciada em abril de 2022. As gravações foram concluídas em outubro do mesmo ano, e, em janeiro de 2023, a Netflix oficializou sua inclusão no catálogo. O filme foi exibido pela primeira vez no Festival Internacional de Cinema de Busan, em outubro, recebendo aclamação da crítica por seu estilo visual e narrativa instigante.

O roteiro de Lee mantém um ar enigmático, envolvendo o público em uma trama que revela poucos detalhes sobre os personagens. A cinematografia é um espetáculo à parte, mesclando sombras e cores neon em um estilo reminiscentemente inspirado em Nicolas Winding Refn, criando uma atmosfera onírica e surreal. O filme mantém o espectador em um estado de confusão intencional, como se estivesse navegando por um sonho, onde a realidade é distorcida.

Através de flashbacks nebulosos, o espectador é apresentado a Ok-ju (Jeon Jong-seo) e sua amiga bailarina, Min-hee (Park Yu-rim). As cenas entre elas ocorrem em uma cafeteria, onde as personalidades contrastantes das duas ficam evidentes. Min-hee é uma figura alegre e carismática, enquanto Ok-ju é introspectiva e séria, refletindo uma dualidade que se manifesta não apenas em seus temperamentos, mas também em suas ocupações – Min-hee, a delicada bailarina, e Ok-ju, uma ex-guarda-costas endurecida pelas circunstâncias da vida.

A trama se intensifica quando Ok-ju encontra o corpo de Min-hee, o que dá início a uma jornada implacável em busca de vingança. Choi Pro (Kim Ji-hoon), um criminoso envolvido com tráfico humano e pornografia, se torna o alvo de sua fúria. Ele é retratado como um vilão sádico, que se aproveita de suas vítimas indefesas, transformando-se no perfeito antagonista para a protagonista. A interpretação de Kim Ji-hoon é tão intensa que o público, junto com Ok-ju, anseia por cada momento de sofrimento que ele venha a experimentar nas mãos da vingadora.

A jornada de vingança de Ok-ju é repleta de obstáculos. Ela enfrenta diversos desafios, cometendo erros e sofrendo derrotas, mas sempre se levantando para continuar sua missão. Apesar das adversidades, sua expressão mantém-se inalterada, transmitindo uma combinação poderosa de tristeza e determinação, um retrato fiel de uma mulher movida pela dor e pela sede de justiça.

“A Bailarina”, assim como “Jogo Justo”, lançado na mesma semana na Netflix, aborda a força e resiliência femininas, especialmente em contextos tradicionalmente dominados por homens. Essas duas obras colocam protagonistas mulheres em papéis de destaque, enfrentando sistemas misóginos e desafiando estereótipos. A vingança feminina, retratada de forma tão crua e esteticamente poderosa, alcança novos patamares, ecoando o impacto de “Bela Vingança”, de Emerald Fennell, que também trouxe à tona discussões profundas sobre gênero e poder.

Esses filmes refletem um movimento crescente contra a misoginia, especialmente na era digital, onde o machismo encontra novas formas de se manifestar. Em “A Bailarina”, essa luta se torna ainda mais visceral, mostrando que a vingança pode ser tanto um ato de resistência quanto uma resposta aos abusos sofridos por tantas mulheres ao longo do tempo.


Filme: A Bailarina
Direção: Lee Chung-hyun
Ano: 2023
Gênero: Suspense/Ação
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.