O vilão mais odiável de Keanu Reeves na história do cinema, na Netflix Divulgação / Dalian Wanda Group

O vilão mais odiável de Keanu Reeves na história do cinema, na Netflix

Alcançar o equilíbrio entre corpo e mente pode parecer um desafio quase inatingível para a vasta maioria dos oito bilhões de habitantes do planeta. Aqueles que chegam perto dessa façanha raramente o fazem por acaso. Entre esse seleto grupo, está um devoto do tai chi, a secular arte marcial chinesa, que dedica sua vida aos ensinamentos de um mestre idoso, dentro dos muros de um templo sereno e atemporal. No entanto, sua tranquilidade é abalada, e sua jornada pacífica se transforma em um tumulto, desencadeado justamente pelo talento que o distinguia dos demais.

É a partir desse ponto que Keanu Reeves, um dos nomes mais icônicos de Hollywood, expressa sua singular perspectiva no universo cinematográfico. Em sua estreia como diretor com “O Homem do Tai Chi”, Reeves nos presenteia com uma obra que desafia as convenções dos filmes de ação tradicionais. A obra é uma interessante fusão entre um drama filosófico e um blockbuster, onde a câmera se move com ousadia e os diálogos tocam em questões existenciais.

O filme levanta discussões profundas sobre livre-arbítrio, o peso das tradições, o imperativo do amor e a inevitabilidade da morte. O roteiro de Michael G. Cooney constrói, de maneira gradual, o perfil de um homem humilde que, aos poucos, é moldado pelas circunstâncias para se tornar uma máquina de combate, algo que só poderá ser desfeito pelos desígnios imprevisíveis do destino.

O protagonista, Tiger Chen, é interpretado por Tiger Hu Chen, que, curiosamente, compartilha mais do que apenas o nome com o personagem. Chen, um experiente dublê que Reeves conheceu durante as filmagens de “Matrix”, dá vida a um personagem que se vê constantemente confrontado pela incerteza, sempre buscando o caminho correto para seguir. No início da história, Tiger leva uma vida simples como entregador, percorrendo a cidade em seu carro e nutrindo uma leve admiração por uma recepcionista charmosa.

Seu mestre, Yang, interpretado pelo veterano Yu Hai, o orienta a não buscar riqueza ou fama por meio do tai chi, mas a seguir os princípios dessa arte com humildade e dedicação. No entanto, o destino, sempre imprevisível, intervém, e uma exibição pública o coloca no caminho de Donaka Mark, um misterioso milionário interpretado por Reeves. Esse encontro marca uma das poucas ocasiões em que Donaka sai de seu luxuoso e enigmático apartamento, decorado com couro e mármore pretos, para influenciar o curso da vida de Tiger.

A trama se intensifica quando Tiger Chen aceita trabalhar como segurança para Mark, e o filme, então, mergulha em um suspense bem elaborado. Aqui, Reeves conduz uma das principais viradas da narrativa com maestria, ampliando a tensão entre os personagens principais, Tiger e Donaka, ao longo de combates físicos e mentais que se desenrolam com a destreza de um duelo no tatame. A relação entre Tiger e seu oponente, vivida por Troy Sandford, é construída com cuidado, preparando o terreno para o clímax da história, que ocorre no templo ancestral de Ling Kong, uma edificação que resistiu por seiscentos anos, dedicada à precisão e à agilidade, mas agora ameaçada pelos avanços da especulação imobiliária.

O dilema de Tiger Chen se aprofunda quando ele decide abrir sua própria escola de tai chi, contrariando os conselhos de seu mestre. Nessa nova etapa, ele precisa lidar com aqueles que dizem admirar sua técnica, sem perder de vista as lições que o levaram até ali. Enquanto continua sua evolução como lutador e como ser humano, Tiger não deixa de observar atentamente as mudanças ao seu redor, percebendo que, por mais que planeje seu futuro, o inesperado sempre encontrará uma maneira de moldar seu destino.

A narrativa de “O Homem do Tai Chi” não é apenas sobre combate físico, mas sobre as batalhas internas que todos enfrentamos. É uma reflexão sobre o equilíbrio entre seguir as tradições e se adaptar ao novo, entre a luta pela sobrevivência e a busca por um propósito maior. Reeves, com sua visão única, oferece uma obra que transcende o gênero de ação, convidando o público a uma meditação sobre o que significa ser verdadeiramente livre em um mundo onde forças maiores parecem sempre estar em jogo.

Assim, “O Homem do Tai Chi” se posiciona como uma obra que não apenas entretém, mas também instiga o espectador a refletir sobre questões universais de vida, morte e, claro, a eterna busca pelo equilíbrio interior.


Filme: O Homem do Tai Chi
Direção: Keanu Reeves
Ano: 2013
Gêneros: Ação/Drama
Nota: 8/10