Jeremy Saulnier, ao lançar “Rebel Ridge”, reafirma seu estilo inconfundível ao entregar um filme que desafia a sutileza, apostando em um impacto visceral. O diretor, conhecido por sua habilidade de prender o público com narrativas intensas e diretas, constrói uma história que transforma uma premissa aparentemente simples em algo muito mais profundo e inesperado. A trama gira em torno de Terry Richmond, interpretado de forma cativante por Aaron Pierre, um homem negro que, após sofrer uma abordagem policial violenta e injusta, embarca em uma jornada kafkiana para reaver o dinheiro que lhe foi confiscado e limpar seu nome. A genialidade de Saulnier está em não apenas jogar o espectador em um thriller de ação, mas em construir um protagonista multifacetado: um ex-fuzileiro naval, metódico e sereno, mas com uma raiva contida que se manifesta conforme a trama avança.
“Rebel Ridge” não segue os moldes tradicionais e, em muitos aspectos, subverte expectativas. Embora o filme toque em temas importantes, como a brutalidade policial e o racismo institucional, ele o faz sem pretensões didáticas, confiando na narrativa e nos personagens para explorar essas questões. A comparação com o documentário “A 13ª Emenda”, de Ava DuVernay, é inevitável, dado o foco nas falhas do sistema jurídico americano, mas enquanto DuVernay expõe essas questões com clareza e detalhe, Saulnier opta por um caminho mais visceral e direto, deixando o público interpretar os eventos à medida que a trama se desenrola. As reviravoltas, sempre bem dosadas, mantêm o espectador alerta, especialmente quando Terry decide enfrentar o xerife local, interpretado por Don Johnson, criando uma tensão crescente e bem estruturada.
O filme também se beneficia do talento de Aaron Pierre, que traz uma combinação única de suavidade e revolta em seu desempenho. Sua jornada de vítima a combatente é convincente, e sua interação com Summer McBride, uma estagiária idealista interpretada por AnnaSophia Robb, adiciona uma camada de esperança e humanidade à história. Embora o enredo evite a inclusão de um romance convencional, a parceria entre Pierre e Robb é uma âncora emocional que equilibra os momentos mais sombrios do filme. As cenas entre os dois sustentam o ritmo da narrativa, especialmente quando a tensão entre Terry e as autoridades locais chega ao ápice.
Em “Rebel Ridge”, Saulnier demonstra uma vez mais sua habilidade de manipular as emoções do público, forçando-o a confrontar a brutalidade e a injustiça sem perder o foco na história central. Ao longo do filme, o espectador é desafiado a questionar o que significa ser pacífico em face da opressão e como a resistência pode se manifestar de maneiras inesperadas. O final surpreendente não oferece respostas fáceis, mas reforça a ideia de que até mesmo os homens mais equilibrados podem ser perigosos quando empurrados além de seus limites. Saulnier não se preocupa em seguir convenções ou em agradar o público com desfechos previsíveis, preferindo deixar a narrativa tomar seu próprio curso.
No geral, “Rebel Ridge” é uma prova de que Jeremy Saulnier continua a evoluir como diretor, oferecendo uma experiência cinematográfica envolvente e provocativa, que combina ação, drama e uma crítica social sutil, mas poderosa. O filme mantém o espectador preso à cadeira até o último segundo, sem perder a coerência e a tensão que sustentam a história desde o início. É um lembrete de que boas histórias nem sempre seguem um caminho linear, e que, às vezes, a força está em desafiar as expectativas.
Filme: Rebel Ridge
Direção: Jeremy Saulnier
Ano: 2024
Gêneros: Thriller/Ação
Nota: 9/10