Inspirado em uma história real, o filme mais perturbador do século 21 está na Netflix Divulgação / Netflix

Inspirado em uma história real, o filme mais perturbador do século 21 está na Netflix

A ascensão da humanidade na escala evolutiva é em grande parte atribuída à nossa capacidade singular de compartilhar informações sobre aspectos cotidianos, como os melhores locais para caçar ou quais alimentos podem ser consumidos sem risco de envenenamento. Esse avanço cognitivo, que nos distingue dos demais animais, foi igualmente acompanhado pelo desenvolvimento de habilidades físicas superiores. Inicialmente, os seres humanos subjugaram animais domesticáveis, os utilizando para trabalho. Em seguida, para enfrentar predadores mais formidáveis, criaram ferramentas como lanças e fundas, expandindo seus territórios e dominando novas áreas. A cada ano, surgem novas tecnologias para atender a demandas emergentes, mas a humanidade ainda enfrenta uma limitação fundamental: a incapacidade de controlar o que transcende o material.

Paco Plaza é amplamente reconhecido por sua habilidade em explorar o medo e a inquietação, desafiando a capacidade do ser humano de confrontar seus medos mais profundos através do gênero do terror. Em “Verónica — Jogo Sobrenatural” (2017), Plaza revela gradualmente o enredo de possessão demoníaca, mantendo o público cativado ao longo da trama. O roteiro, coescrito com Fernando Navarro, é meticulosamente estruturado para criar uma narrativa que mergulha o espectador em uma atmosfera de tensão crescente. Para compreender o impacto dessas histórias sombrias e perturbadoras, é essencial observar o contexto em que se desenrolam.

A protagonista, Verónica, uma jovem de quinze anos, vive uma vida marcada por desafios e descontentamento. Sua atuação é brilhantemente capturada por Sandra Escacena, que transmite o sofrimento e a frustração de Verónica, que se vê forçada a desempenhar um papel fundamental na vida de seus irmãos, Lucía, Irene e Antoñito, enquanto sua mãe, Ana, interpretada por Ana Torrent, passa a maior parte do tempo cuidando de um bar. Apesar de suas dificuldades, Verónica tenta esconder seu desânimo dos irmãos, que não são responsáveis pelas suas desventuras. O mesmo pode ser dito sobre Ana, que, apesar das suas próprias lutas, acaba se conformando com a situação.

Nos momentos de lazer, Verónica tenta planejar atividades com sua amiga Rosa, interpretada por Angela Fabian, cujo recente envolvimento com a repetente Diana, de Carla Camera, causa ciúmes e conflitos que poderiam ter sido mais explorados. Mesmo assim, Verónica participa de uma sessão com o tabuleiro ouija, uma ferramenta do século 19 destinada à comunicação com o além. A descoberta de um desses tabuleiros no porão da escola, enquanto todos estão distraídos com um eclipse, serve como um símbolo conveniente para Plaza.

O desenrolar dos eventos segue um padrão familiar dentro do gênero, com Verónica sendo hospitalizada e os fenômenos sobrenaturais começando a afetar sua família, incluindo o jovem Antoñito. A origem desses eventos está ligada ao descuido das amigas ao usar o tabuleiro, provocando a fúria das entidades invisíveis.

Embora muitos filmes de terror se baseiem em elementos fantasiosos e absurdos, “Verónica” se diferencia ao ancorar sua trama em um evento real ocorrido em Madrid em 1991. Apesar de algumas escolhas clichês, como a figura da freira cega apelidada de Irmã Morte, interpretada por Consuelo Trujillo, Plaza opta por focar no terror psicológico, explorando o impacto da ausência do pai de Verónica e suas implicações na história. A abordagem do filme permite uma exploração profunda do medo, sem recorrer aos truques mais comuns do gênero, oferecendo uma experiência que provoca pânico de forma sutil e eficaz.


Filme: Verónica — Jogo Sobrenatural
Direção: Paco Plaza
Ano: 2017
Gênero: Terror
Nota: 8/10