No Prime Video: épico baseado em um dos maiores clássicos da literatura americana, que ganhou 51 prêmios incluindo 2 Oscars Divulgação / Warner Bros.

No Prime Video: épico baseado em um dos maiores clássicos da literatura americana, que ganhou 51 prêmios incluindo 2 Oscars

Baz Luhrmann é um diretor conhecido por sua habilidade em transformar até os temas mais graves em espetáculos visuais de brilho e glamour. Essa marca registrada é evidente em “Elvis” (2022), onde a trajetória de um jovem branco do Mississippi que se torna o “Rei do Rock” é narrada com uma exuberância característica, impulsionada pela direção criativa de Luhrmann e a peculiaridade imprevisível do empresário que o guia ao estrelato. Em vez de se limitar a uma cinebiografia comum, Luhrmann opta por uma abordagem extravagante, destacando seu estilo grandioso e visualmente impactante, o que lhe confere um toque inconfundível.

Voltando um pouco no tempo, “Moulin Rouge” (2001) é outra prova da habilidade do diretor em misturar drama e deslumbramento, criando um retrato apaixonado da Paris boêmia do final do século 19. Entre esses dois filmes, “O Grande Gatsby” (2013) surge como uma adaptação satírica e visualmente deslumbrante do romance icônico de F. Scott Fitzgerald.

Luhrmann mergulha nas profundezas da elite americana pré-crise de 1929, retratando os excessos de uma sociedade que, sem saber, caminhava para o colapso. Ao adaptar a obra de Fitzgerald, publicada em 1925, Luhrmann revisita o romance pela terceira vez, trazendo uma visão ainda mais opulenta e extravagante, algo que as versões anteriores — de 1949, dirigida por Elliott Nugent, e de 1974, sob a direção de Jack Clayton — não alcançaram.

Inserido no contexto da Lei Seca, o filme capta a essência de uma época em que as elites continuavam a celebrar com abundância, ignorando as consequências da proibição do álcool. Através dos olhos de Nick Carraway, que narra suas experiências a partir de um sanatório em Perkins, Oklahoma, o espectador é transportado para um mundo de festas sem fim, regadas a champanhe e uísque.

No entanto, há uma ambiguidade sutil no relato de Carraway, deixando o público incerto sobre o que é realidade e o que é fantasia. Morando em Long Island, em uma região cercada pelas mansões de industriais e playboys, Carraway se vê imerso em um universo distante de sua própria origem, onde as festas intermináveis e os excessos parecem ser a norma.

Tobey Maguire, no papel de Nick Carraway, comanda o início do filme com uma performance introspectiva, explorando as camadas psicológicas de seu personagem e sua crescente fascinação pelo mundo dos ricos. No entanto, quando Jay Gatsby, interpretado por Leonardo DiCaprio, faz sua entrada em cena, é impossível não notar a mudança de foco.

DiCaprio domina o restante do filme, trazendo à tona a complexidade de Gatsby — um homem repleto de charme, mas também de tristeza e isolamento. Gatsby é o símbolo de uma classe que busca desesperadamente preservar seus privilégios, enquanto, ao mesmo tempo, esconde seus próprios preconceitos e alienações.

À medida que o filme avança, a atmosfera festiva vai lentamente se esvaindo, revelando a superficialidade das pessoas que compõem esse universo. As festas, outrora vibrantes e cheias de vida, tornam-se vazias e desprovidas de significado, e o público é deixado com a sensação de que a vida que essas pessoas levam está longe de ser um verdadeiro “conto de fadas”.

A conclusão de Luhrmann é clara: por trás de toda a pompa e brilho, há uma profunda sensação de vazio e desespero que permeia o mundo de Gatsby, um mundo onde as festas podem ser intermináveis, mas a alegria genuína é efêmera e fugaz.

Essa abordagem inovadora de Luhrmann em “O Grande Gatsby” solidifica sua posição como um dos cineastas mais visionários de sua geração, trazendo à tona um comentário social afiado sobre a decadência da elite americana e o vazio existencial que frequentemente acompanha a busca incessante por riqueza e status.


Filme: O Grande Gatsby
Direção: Baz Luhrmann
Ano: 2013
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10