Você precisa assistir: faça um favor a si mesmo e reserve 90 minutos para essa comédia encantadora na Netflix Divulgação / Cinépolis Distribución

Você precisa assistir: faça um favor a si mesmo e reserve 90 minutos para essa comédia encantadora na Netflix

Morrer de amor só fica bem para os cavalos-marinhos. Essa é a conclusão a que se chega ao fim da hora e meia de “A Vida Imoral de Um Casal Ideal”, uma comédia romântica barulhenta, colorida e acelerada sobre dois jovens que se conhecem, se apaixonam, consumam esse sentimento e passam um quarto de século sem saberem um da outra. Tarimbado na condução dessas histórias, Manolo Caro, uma das vozes mais altissonantes do novíssimo cinema latino, segue acertando em cheio com suas comédias leves, desafetadas, nas quais remolda clichês de forma a encontrar a saída para os deliciosos conflitos que nem todos têm a sorte de experimentar. O roteiro de Caro estabelece dois tempos narrativos paralelos a fim de explicar melhor a razão que fez com que Martina e Lucio abdicassem de sua paixão ainda no ovo e saíssem pelo mundo tentando preencher aquele vazio, até que seus caminhos se cruzam novamente.

Ser jovem nunca foi fácil. O verdor do existir se nos vêm como um ajuntamento de autocobranças, satisfações que achamos que devemos ao universo — quando o universo não faz a menor ideia de quem somos, e não tem nenhuma pretensão de fazê-lo —, dilemas existenciais característicos, muitos profundos como um balde, e dúvidas quanto ao que reserva-nos o futuro, essas de fato preocupantes. Tememos ser surpreendidos pelos tantos inesperados da vida sem que ainda estejamos prontos, o que, como todos sabemos os que já passaram de determinada idade, sói acontecer com uma frequência meio enjoativa. Na introdução, o diretor-protagonista vale-se de cenas de sexo delicadamente enquadradas para mostrar os protagonistas no frescor da juventude enroscando-se numa cama durante uma tarde de calor. Alguns lances à frente, Martina e Lucio, interpretados por Ximena Romo e Sebastián Aguirre nessa primeira fase, são expulsos da escola, um rigoroso colégio de orientação católica, e a ação corta para um estudio de balé em San Miguel de Allende, na região central do México, onde Martina é professora. A aula chega ao fim, ela vai até uma mercearia no mesmo prédio, e pouco depois, como por encanto, aparece Lucio.

Caro trata de equilibrar uma certa aura sobrenatural que insiste em permear seu filme com passagens muito cruas da vida adulta dos dois, percebendo cada vez mais forte aquela chama de década e meia atrás, mas ariscos, evidentemente, ao ponto de criarem casamentos e famílias imaginárias, na intenção de fugirem de si mesmos. A partir desse ponto, Cecilia Suárez e Manuel García-Rulfo assumem, mantendo a cadência vacilante esquadrinhada por Romo e Aguirre, mas sensíveis o bastante para sugerir mudanças sutis de temperamento de seus personagens. A facilidade com que Caro desata os nós apertados que vão se formando tornam convincente a solução exposta no desfecho, quando Martina e Lucio resolvem ficar juntos, “para sempre”.  Felizes? Quem sabe.


Filme: A Vida Imoral de Um Casal Ideal
Direção: Manolo Caro
Ano: 2016
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10