Entre os diversos desafios que a Igreja enfrenta, talvez nenhum seja mais premente do que a batalha contra a desinformação e o preconceito. Ron Howard, ao adaptar o romance de Dan Brown, publicado em 2000, para o cinema em “Anjos e Demônios”, captura a essência paradoxal do ser humano. Este é um ser que busca fervorosamente a salvação, ainda que frequentemente a procure nos lugares errados, e é marcado por uma autoconfiança frequentemente ingênua e arriscada, mesmo quando se depara com perigos evidentes.
Após o sucesso estrondoso de “O Código Da Vinci” (2006), uma adaptação da obra igualmente controversa de Dan Brown, que conquistou bilheteiras em todo o mundo, Howard retorna às obsessões do autor com “Anjos e Demônios”. Esse filme, assim como “Inferno” (2016), também baseado em um romance de Brown e que recebeu críticas negativas devido à sua visão maniqueísta do catolicismo, explora novamente a temática da luta entre a ciência e a religião.
Embora a crítica ao clérigo católico e à ostentação e indiferença da Igreja em relação ao mundo exterior seja mais sutil nesta obra, a habilidade de Howard em criar um ambiente de caos e desespero é evidente. O filme faz com que o público sinta uma mistura de angústia e claustrofobia, mesmo que algumas situações possam provocar risos involuntários.
O simbologista Robert Langdon, interpretado por Tom Hanks, continua seu papel como o único capaz de resolver crises complexas, mesmo que ele esteja, neste caso, mais preocupado com os prazeres simples, como um mergulho na piscina. Langdon abandona Harvard mais uma vez para enfrentar uma nova crise envolvendo os prelados de Roma. A trama se inicia com um breve retorno à sequência de “O Código Da Vinci”, onde um recipiente de antimatéria é roubado do Grande Colisor de Hádrons do CERN, em Genebra. A responsabilidade pelo roubo é atribuída aos Illuminati, um grupo secreto que, dentro da própria Igreja, se opõe ao obscurantismo religioso e à influência do clero na política, especialmente na Europa.
Howard insere questões político-ideológicas no cenário da Igreja, mencionando a morte de um papa progressista e carismático, que pode ser uma referência a João Paulo II. A disputa do conselho cardinalício para eleger um novo papa é um ponto central, com a figura do camerlengo, interpretada por Ewan McGregor, ganhando destaque como uma referência explícita ao pontífice polonês.
Apesar de “Anjos e Demônios” ser repleto de clichês e de ser um enigma para aqueles menos familiarizados com os temas abordados ou com a obra de Dan Brown, o filme se destaca pela qualidade de sua produção cênica. A sequência em que o personagem de McGregor é elevado a uma figura quase divina é particularmente impactante, mostrando a habilidade de Howard em criar momentos emocionantes que ressoam com o público. A experiência cinematográfica oferecida, apesar das críticas, merece uma consideração mais indulgente.
Filme: Anjos e Demônios
Direção: Ron Howard
Ano: 2009
Gêneros: Mistério/Thriller
Nota: 8/10