Lindsay Lohan representa um caso típico de renascimento no cenário hollywoodiano. Após um longo período afastada dos holofotes, a atriz, que dominou o início dos anos 2000 como um ídolo teen, encontrou um novo fôlego para a carreira, resgatando o sucesso que um dia a consagrou.
Esse retorno triunfal começou a ganhar força a partir de “Meninas Malvadas” (2004), dirigido por Mark Waters, um fenômeno cultural que, anos depois, voltou ao radar com o remake de 2024, comandado por Samantha Jayne e Arturo Perez Jr., em meio à onda de revivals que toma conta da indústria cinematográfica atual.
Com o filme “Sorte no Amor” (2006), dirigido por Donald Petrie, Lohan iniciava uma tentativa de reconstruir sua imagem pública, abalada por um período marcado por excessos. Festas descontroladas, relacionamentos complicados e repercussões negativas impactaram diretamente sua vida profissional.
Após mais uma tentativa de retorno em “Uma Quedinha de Natal” (2022), a atriz encontrou uma nova oportunidade com “Pedido Irlandês”. Esse novo trabalho, dirigido por Janeen Damian, veio no momento certo, sendo uma parceria natural entre Lohan e Damian, cuja química estabelecida no filme anterior resultou em uma performance carismática e convincente.
O roteiro, assinado por Kirsten Hansen, coloca Lohan no papel de Maddie Kelly, uma editora ambiciosa que, ao embarcar em um casamento por conveniência, vê uma oportunidade de ascender profissionalmente.
No entanto, consciente dos riscos, a personagem se encontra em uma encruzilhada, o que faz o enredo ecoar as nuances de “O Casamento do Meu Melhor Amigo” (1997), um clássico do gênero. A direção de Janeen Damian, no entanto, não alcança o mesmo grau de sofisticação ou ousadia que o filme de P.J. Hogan, mas encontra sua força na atuação de Lohan, que domina as cenas com sua presença, além de contar com um elenco coadjuvante competente.
O cerne do filme gira em torno das escolhas que moldam o destino dos personagens. “Pedido Irlandês” explora a dicotomia entre amor e sacrifício, levando a reflexão de que toda mudança verdadeira só ocorre quando se está disposto a abandonar antigos hábitos e se aventurar nas profundezas da alma. O encontro entre personagens tão distintos cria uma tensão narrativa que sustenta o filme, mas nem sempre atinge seu potencial máximo.
A trama segue Maddie, convidada para ser madrinha no casamento de sua amiga de infância, Emma Taylor, que está prestes a se casar com Paul Kennedy, um escritor sem brilho. Curiosamente, Maddie é quem realmente escreve as histórias de Paul, servindo como ghostwriter para suas obras de baixa qualidade. A dinâmica entre esses três personagens — interpretados por Lohan, Alexander Vlahos e Elizabeth Tan — forma o eixo central do filme.
Em uma sequência chave, Maddie, sentada em um banco mágico sob uma árvore florindo no deslumbrante Condado de Clare, faz um pedido para Santa Brígida, interpretada por Dawn Bradfield, o que desencadeia uma série de eventos que transforma a vida de todos os envolvidos. Para Maddie, surge no horizonte James Thomas, um fotógrafo interpretado por Ed Speleers, que, embora não se apresente inicialmente como o típico herói romântico, acaba sendo o catalisador para a mudança interior que ela tanto precisa.
O charme do filme reside na química entre Lohan e Speleers, cujas interações dão ao filme um frescor, especialmente nas cenas em que Speleers rouba a atenção com seu carisma. No entanto, apesar dos esforços do elenco, “Pedido Irlandês” não escapa de uma dose exagerada de realismo mágico, que, em alguns momentos, pode parecer deslocada.
Em resumo, o filme aposta em uma narrativa que mescla elementos de comédia romântica tradicional com pitadas de fantasia, mas sem o mesmo brilho e inteligência de obras predecessoras. No entanto, o desempenho dedicado do elenco, especialmente de Lohan e Speleers, mantém a produção envolvente o suficiente para agradar ao público que busca uma experiência leve e despretensiosa.
Filme: Pedido Irlandês
Direção: Janeen Damian
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 7/10
