Durante séculos as relações de poder favoreceu a perpetuação de abusos físicos, financeiros e emocionais, especialmente de homens contra mulheres. Com as discussões sobre isso, finalmente tem se possibilitado colocar essas situações às claras, combatendo esse ciclo. O filme “A Garota de Miller” traz o assunto à mesa, explorando as dinâmicas entre um professor e uma aluna e mostrando o lado sombrio e perturbador de manipulação nessa relação.
Miller (Martin Freeman) é um professor de literatura que começa a dar aulas em uma cidade de interior, onde supostamente nada de interessante acontece e as pessoas não possuem muita profundidade intelectual, conforme os relatos da protagonista, Cairo (Jenna Ortega). A garota, uma adolescente de ensino médio, é filha de advogados bem-sucedidos e mora em uma mansão nas proximidades da escola. O caminho mais próximo da casa de Cairo até o colégio é cortando através uma floresta. Por isso, ela pega diariamente a mesma estrada a pé. Esse fato se torna uma característica marcante da personagem, conferindo a ela um certo ar de mistério e obscuridade.
A chegada de Miller desperta interesse de Cairo, já que ele é um homem charmoso e intelectual, que compreende suas angústias existenciais e seus gostos refinados. Cairo rapidamente se torna sua protegida. Aspirante a escritora, ela segue as orientações de Miller para conseguir dar continuidade ao livro que pretende escrever.
No entanto, a proximidade entre eles vai tomando contornos diferentes do que uma mera mentoria. Miller se sente fisicamente atraído por Cairo e, percebendo o poder que exerce sobre ela, começa a dar sinais de seu interesse mais profundo. Cairo se sente cada vez mais atraída por Miller e usa sua relação com o professor como fonte de inspiração para sua história. Ela, no entanto, fantasia situações eróticas entre eles, que transcreve para o papel e posteriormente entrega ao professor, que sente que os relatos significam um risco para sua reputação e seu emprego.
É claro o comportamento ambíguo e manipulador do professor, fazendo com que Cairo se sinta confusa não apenas sobre os próprios sentimentos, mas também sobre a natureza de sua relação com Miller. Ferida pela rejeição, ela planeja conduzir uma vingança contra o objeto de seu desejo. Ao mesmo tempo em que reflete sobre a vulnerabilidade de Cairo, o filme também mostra como situações que supostamente deveriam ser inocentes podem se tornar fontes de problemas inesgotáveis. É preciso cuidado ao manipular os sentimentos das pessoas, principalmente quando elas estão em alguma situação de vulnerabilidade.
Inspirado nos thrillers eróticos dos anos 1980, o filme, dirigido por Jade Halley Bartlett sofreu duras críticas por criar uma tensão sexual entre a atriz Jenna Ortega, que tem uma imagem bastante infantilizada, com o ator Martin Freeman, décadas mais velho. Grande parte do público repugnou as cenas eróticas, embora elas não fossem tão explícitas.
Além das excelentes atuações de Jenna Ortega e Martin Freeman, um ponto positivo “A Garota de Miller” é a estética romântica e gótica, dando um tom mais sombrio e poético ao filme. No entanto, em questão de profundidade dos personagens, o enredo de Bartlett deixou a desejar.
Filme: A Garota de Miller
Direção: Jade Halley Bartlett
Ano: 2024
Gênero: Drama/Erótico
Nota: 8