Como um enigma de Agatha Christie: o suspense da Netflix que vale cada segundo do seu tempo Divulgação / Aurum Film

Como um enigma de Agatha Christie: o suspense da Netflix que vale cada segundo do seu tempo

Há décadas, o mistério e a violência são temáticas recorrentes na narrativa visual. Embora já se tenha passado quase meio século desde a morte de Agatha Christie (1890-1976), seu legado permanece vivo, inspirando incontáveis histórias que cativam o espectador de forma envolvente, ora por meio da curiosidade intelectual, ora através de um impacto visceral, embora não necessariamente culinário. A descoberta de um corpo numa praia tranquila seria o cenário ideal para a Dama do Crime, e possivelmente foi essa a inspiração que levou Małgorzata Oliwia Sobczak a conceber o enredo de “Czerwień” (“vermelho”, em tradução direta), thriller policial lançado em 2019.

Cinco anos depois, Adrian Panek transforma a tensão do livro em “As Cores do Mal: Vermelho”, repleto de reviravoltas discretas, até que todas as peças se encaixem e a solução surpreenda. A adaptação roteirizada por Panek e Lukasz M. Maciejewski utiliza o romance de Sobczak para explorar a relação entre poder, corrupção e os meandros do submundo, criando uma narrativa que se sustenta por si só, mesmo quando se percebe certa rigidez.

O enredo se desenrola na Tricidade, região da Polônia situada na Pomerânia, onde o detetive Leopold Bilski investiga o aparente assassinato de Monika Bogucka. Nesse balneário que compreende Gdansk, Gdynia e Sopot, o Mar Báltico é testemunha silenciosa dos últimos momentos da vítima, revelados através de um longo flashback que a mostra bebendo em uma boate. Gradualmente, Bilski percebe que há muito mais por trás do crime do que as autoridades estão dispostas a admitir.

No primeiro ato, embora não se cruzem, os personagens de Jakub Gierszał e Zofia Jastrzębska estão em todo lugar. A ousadia de Monika talvez explique seu destino, e Jastrzębska dá vida à sua personagem com uma petulância doce que acaba sendo fatal. Quando seu corpo é encontrado na típica areia pedregosa do litoral do Leste Europeu, ela está sem os lábios, detalhe que reforça a morbidez da cena.

Panek articula o segredo obscuro por trás da morte de Monika, inserindo Helena Bogucka, sua mãe, como peça crucial na trama. Helena, uma figura influente em Tricidade, torna-se a aliada que Bilski precisava. Maja Ostaszewska e Gierszał compartilham as cenas mais marcantes do filme, que evoca o suspense clássico inspirado por Christie, com uma atmosfera sombria que funciona bem, mesmo sem ser inovadora, conseguindo despertar os sentidos do público.


Filme: As Cores do Mal: Vermelho
Direção: Adrian Panek
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Suspense/Policial 
Nota: 8/10