O melhor suspense canadense do último ano está na Netflix e vai te causar calafrios por 90 minutos Divulgação / Media in Sync

O melhor suspense canadense do último ano está na Netflix e vai te causar calafrios por 90 minutos

“Sangue Frio” convida o espectador a explorar os recantos mais sombrios da alma humana, lugares que, uma vez visitados, podem nunca ser abandonados. É nesse terreno emocional que habitam tanto as intenções mais nobres quanto as maldades mais degradantes que uma pessoa pode cometer. Ana, a protagonista interpretada por Nina Bergman, é uma figura marcada pelo sofrimento, que reconhece essa dualidade dentro de cada indivíduo, embora tenha plena consciência de que alguns parecem ser predestinados ao mal.

O filme dirigido por Sébastien Drouin mergulha em temas comuns a franquias como “Busca Implacável” (2008-2014), apostando no magnetismo de seu elenco para dar vida a uma trama que oscila entre reviravoltas surreais e a crueza cotidiana das dores que moldam cada personagem. Cada figura nessa história carrega sua própria maldição, e o roteiro encontra no carisma de seus intérpretes a força para manter o público engajado, mesmo quando a narrativa se aproxima de situações quase banais.

A fotografia assinada por Ryan Petey, com tons suaves e desbotados, contribui para a sensação de aprisionamento naquele cenário gélido e desolador. Ana, logo no início, alerta: tudo não passa de uma grande ilusão. A protagonista luta para sobreviver, primeiro contra um ex-companheiro abusivo e, mais tarde, contra um suposto salvador que se revela ainda mais sinistro. Drouin, ao lado dos corroteiristas Andrew Desmond e James Kermack, conduz o espectador por uma série de situações aparentemente improváveis, até que a verdade venha à tona e as máscaras caiam.

Em uma cena-chave que ocorre em uma lanchonete à beira da estrada, Ana serve mesas quando David, um estranho, chega após o encerramento do expediente da cozinha. Mesmo assim, ela oferece café e uma fatia da famosa torta de maçã do local. A conversa que se inicia entre os dois, à primeira vista, parece um flerte casual, mas logo é interrompida pela chegada de Vincent, o ex-marido de Ana, embriagado e furioso, exigindo respostas sobre o motivo de não poder ver o filho. É nessa introdução que Drouin planta as sementes do enredo, fornecendo ao público indícios sutis sobre os próximos passos da história.

Yan Tual, no papel de Vincent, transmite com competência o desespero de um homem que já foi um pai amoroso e um marido dedicado, antes que o vício o consumisse. David, por outro lado, observa silenciosamente o conflito entre os dois, mas intervém quando a situação se torna violenta. A atuação de Allen Leech impressiona pela transformação radical de seu personagem, que evolui de um desconhecido aparentemente inofensivo para uma figura monstruosa, à medida que é caçado por um inimigo inesperado. Após deixar Vincent para trás, David se envolve em um acidente, colidindo com uma árvore, e é nesse ponto que Drouin revela o enigma que dá origem a uma série de eventos inesperados, incluindo o surgimento de uma criatura quase mítica, que habita as montanhas e caça aqueles que cometem atos cruéis contra seus semelhantes.

Apesar de seu enredo recheado de clichês, “Sangue Frio” consegue oferecer uma nova perspectiva aos filmes de suspense ambientados em paisagens nevadas. A jornada de Ana, que passa de vítima aprisionada a uma mulher que reivindica sua liberdade e controle sobre o próprio destino, ressoa como uma metáfora profunda sobre o poder do livre-arbítrio, a influência da sorte, e as inevitáveis fatalidades que cruzam o caminho humano. Mesmo quando a narrativa flerta com elementos místicos, especialmente no clímax, o filme consegue manter um certo realismo emocional. No desfecho, somos deixados com uma ponta de esperança, uma razão para acreditar que, por mais improváveis que sejam, milagres podem acontecer.


Filme: Sangue Frio
Direção: Sébastien Drouin
Ano: 2023
Gêneros: Terror/Suspense
Nota: 8/10