Faroeste com Ethan Hawke na Netflix vale cada milésimo de segundo do seu tempo Divulgação / Blumhouse Productions

Faroeste com Ethan Hawke na Netflix vale cada milésimo de segundo do seu tempo

Na sequência de abertura de “Terra Violenta”, vemos um viajante solitário cruzando o árido deserto em direção ao território mexicano. No caminho, ele encontra um padre que, em desespero, clama por ajuda, pois sua égua, exausta pelo calor escaldante, se recusa a seguir adiante. O homem desmonta do cavalo, troca algumas palavras com o clérigo e oferece uma breve atenção enquanto tenta compreender a situação. Mas é surpreendido quando o padre, repentinamente, saca uma arma e exige o cavalo do viajante.

Esse início revela uma crítica afiada aos falsos profetas que proliferam em tempos de crise, colocando o espectador diretamente no clima hostil e imprevisível que Ti West criou para seu western. O filme mescla elementos icônicos dos grandes mestres do gênero, como Sergio Leone (1929-1989), Don Siegel (1912-1991) e Quentin Tarantino, sem perder a sua própria identidade. West constrói um retrato sombrio de uma terra sem lei, onde a sobrevivência é brutal e os mais fortes, invariavelmente, dominam os mais fracos. As forças da ordem, quando não ausentes, são impotentes, e o medo se espalha como uma doença, imobilizando aqueles que deveriam resistir. A trilha sonora de Jeff Grace confere peso a cada cena, e a atuação da coadjuvante, logo nos primeiros momentos, prende a atenção e redime o protagonista anti-herói.

Uma das maiores virtudes de “Terra Violenta” é não se levar demasiadamente a sério. Essa autoconfiança dá ao filme uma leveza que contrasta com a brutalidade do cenário. Após se livrar do farsante interpretado por Burn Gorman, que aparece em pequenos, mas memoráveis momentos, o misterioso cavaleiro segue até a cidade de Denton, no Texas. Lá, encontra um vilarejo devastado pela barbárie que emergiu após a Corrida do Ouro, que, em meados do século 19, levou jovens homens à Califórnia em busca de fortuna.

Embora West não defina claramente o período em que a história se passa, o foco está na jornada interior de Paul, o caubói vivido por Ethan Hawke, um homem marcado por batalhas internas e externas. A construção desse personagem remete a “Ataque dos Cães” (2022), a adaptação de Jane Campion do romance de Thomas Savage, “The Power of the Dog” (1967). Assim como na obra de Savage, há uma relação visceral entre o homem e o cão, e, em “Terra Violenta”, a cadela Abbie, interpretada pela talentosa Jumpy, é a única criatura capaz de compreender as angústias de Paul. Sua ausência, quando ocorre, é mais sentida do que a de qualquer outro personagem, incluindo o Marechal, vivido por John Travolta, ou Mary-Anne, a personagem de Taissa Farmiga.

Essa combinação entre crueza e lirismo, violência e humor, faz com que “Terra Violenta” deixe o espectador com um desejo por mais. O filme desafia o absurdo com uma naturalidade intrigante, e talvez seja justamente esse contraste entre o insano e o cotidiano que o torna tão fascinante.


Filme: Terra Violenta
Direção: Ti West
Ano: 2016
Gêneros: Faroeste/Ação
Nota: 9/10