Kelly Fremon Craig, conhecida por seus trabalhos em comédias que abordam o amadurecimento, tem em “Quase 18” uma das suas produções mais celebradas. O filme acompanha a vida de Nadine (Hailee Steinfeld), uma adolescente peculiar de 17 anos que sempre teve dificuldades em se encaixar na escola e em sua própria vida social. Sem grandes habilidades para interações sociais, baixa autoestima e um estilo excêntrico de se vestir, seus únicos suportes eram o pai, Tom (Eric Keenleyside), e sua amiga inseparável, Krista (Haley Lu Richardson), com quem formava uma forte aliança desde a infância.
A relação com o pai era fundamental para o equilíbrio emocional de Nadine, e a presença constante de Krista a ajudava a suportar a dura realidade da vida escolar. No entanto, tudo se desestabiliza quando Nadine flagra Krista e Darian (Blake Jenner), seu irmão mais velho e com quem sempre teve uma relação difícil, na cama. A traição de sua única amiga e a união com o irmão, que simboliza tudo o que ela despreza, colocam Nadine em uma crise pessoal profunda.
Esse desmoronamento emocional é agravado pelo trauma que Nadine carrega desde a morte do pai, que faleceu subitamente de um ataque cardíaco enquanto dirigia com ela no carro. A partir desse momento, Krista foi a âncora que manteve Nadine minimamente equilibrada, mas agora, com sua amiga namorando Darian, ela se vê sozinha em um mundo que parece ainda mais hostil. O relacionamento conturbado com o irmão, que sempre foi o oposto de Nadine — ele, o filho perfeito, popular e admirado pela mãe; ela, a ovelha negra, cheia de defeitos e problemas — só intensifica a sensação de isolamento.
Nadine é o tipo de adolescente que não tem filtro. Ela é impulsiva e frequentemente diz coisas que magoam os outros, muitas vezes sem pensar nas consequências. Essa sinceridade brutal, somada a sua tendência para criar situações embaraçosas, a coloca em atrito constante com todos ao seu redor. Nesse cenário, a única pessoa que, de certa forma, a entende — mesmo que relutantemente — é o professor de história, Max (Woody Harrelson). Embora Max seja resistente aos desabafos de Nadine, seu humor ácido e sombrio estabelece uma dinâmica interessante entre os dois, gerando alguns dos diálogos mais inteligentes e espirituosos do filme.
A trama segue com a aproximação de Nadine a Erwin, um colega nerd com quem ela desenvolve uma inesperada amizade, suavizando parte de sua angústia. Mas quando finalmente se declara para Nick Mossman (Alexander Calvert), por quem nutre uma paixão platônica, o desencontro desastroso entre os dois culmina em mais um fracasso para Nadine. Nesse ponto, ela já rompeu laços com sua família, com Krista e se vê mais uma vez sozinha, buscando consolo no professor Max, cujo lado pessoal é finalmente revelado, trazendo uma nova perspectiva para a adolescente.
Ao longo do filme, Nadine começa a compreender que seu irmão não vive a vida perfeita que ela imaginava e que sua visão de mundo, centrada em si mesma, é limitada. Ela descobre que, na maioria das vezes, as ações dos outros não são planejadas para machucá-la, mas refletem as tentativas de cada um em buscar felicidade e equilíbrio em suas próprias vidas. Esse amadurecimento a transforma em uma protagonista difícil de se amar, mas profundamente humana, com falhas e fragilidades que ressoam com muitos.
“Quase 18” é uma narrativa que explora as complexidades da adolescência, das relações familiares e da superação do luto, enquanto entrelaça elementos da cultura pop e referências inteligentes ao cinema e à música. As menções a “O Grande Lebowski”, clássico dos irmãos Coen, são uma homenagem sutil, já que Woody Harrelson e Hailee Steinfeld, ambos presentes neste filme, também colaboraram com os cineastas em outras produções. O filme também é embalado por uma trilha sonora repleta de bandas de indie rock, como The 1975 e Angus & Julia Stone, criando uma atmosfera que dialoga perfeitamente com o espírito jovem e rebelde de Nadine.
No fim das contas, “Quase 18” oferece uma visão crua e autêntica sobre os desafios do crescimento e as dores de se encontrar em um mundo que parece constantemente contra nós. É um filme que, com sua mistura de humor, drama e leveza, se conecta tanto com quem já passou pela turbulência da adolescência quanto com aqueles que ainda estão tentando encontrar seu lugar no mundo.
Filme: Quase 18
Direção: Kelly Fremon Craig
Ano: 2016
Gênero: Comédia/Drama
Nota: 10