Ganhador de 7 Oscars em 2024, o filme mais celebrado da década está no Prime Video

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Christopher Nolan oferece, em “Oppenheimer”, uma narrativa ao mesmo tempo fascinante e complexa sobre a vida de Julius Robert Oppenheimer, o cientista que encabeçou o desenvolvimento da arma mais devastadora já criada pela humanidade. Embora o enredo se desenrole de maneira previsível para aqueles familiarizados com os eventos históricos, o filme se destaca pela sua profundidade emocional e por seu retrato sensível das nuances pessoais e profissionais de Oppenheimer. No entanto, é difícil ignorar o tom prolixo e, em certos momentos, um tanto confuso, à medida que o roteiro despeja grandes volumes de informações, exigindo atenção constante do espectador. Por outro lado, o detalhamento minucioso e a estética visual arrebatadora compensam o ritmo arrastado, oferecendo um quadro poético da jornada do cientista.

O longa ressalta a importância monumental de Oppenheimer no contexto do século XX, um período em que suas contribuições científicas, embora menos populares que as de Albert Einstein, foram fundamentais para o desenvolvimento da bomba atômica. Assim como Einstein se apoiou nos estudos de gigantes como Isaac Newton e Hendrik Lorentz para formular suas teorias da relatividade, Oppenheimer construiu sua carreira com base nos conhecimentos anteriores, culminando no sucesso do Projeto Manhattan. Nolan, contudo, escolhe focar não apenas nos aspectos científicos, mas também nas lutas internas e nas contradições morais que atormentaram Oppenheimer.

Adaptado da biografia premiada de Kai Bird e Martin Jay Sherwin, “Oppenheimer: O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano”, o filme não se limita à tecnologia e aos fatos históricos. Pelo contrário, o verdadeiro triunfo do filme está em sua habilidade de capturar as emoções cruas e as interações humanas. As expressões faciais, as pausas carregadas de tensão, e até os silêncios dizem tanto quanto os diálogos. Nolan consegue transmitir com maestria a angústia e o peso que Oppenheimer carrega ao longo de sua vida, ressaltando sua complexidade como ser humano — algo que os registros históricos muitas vezes deixam de lado.

Em várias passagens, o diretor retorna a momentos-chave da trajetória de Oppenheimer, como se fosse atraído pela mesma força que conduz as tempestades solares, ilustradas no início da narrativa. Nolan transforma o cientista em uma figura trágica, quase mitológica, que ousa desafiar os limites do conhecimento, mas cujas escolhas têm consequências que reverberam pelo mundo. A luta interna de Oppenheimer — entre seu intelecto brilhante e sua consciência moral — é amplamente explorada, e a atuação de Cillian Murphy confere ao personagem uma profundidade avassaladora. Suas expressões introspectivas e olhares penetrantes tornam a figura do cientista ainda mais intrigante.

A relação entre Oppenheimer e Lewis Strauss, interpretado por Robert Downey Jr., é outro eixo central do filme. O antagonismo entre os dois é minuciosamente explorado, criando uma tensão que permeia grande parte da trama. Downey Jr. oferece uma performance cuidadosa e habilmente construída, que justifica a transformação de Strauss de admirador a inimigo implacável. Essa dinâmica, tão bem trabalhada por Nolan, culmina em momentos de alta tensão dramática, essenciais para a narrativa.

A narrativa se desenrola em torno de dois marcos históricos: a invasão da Polônia pela Alemanha em 1º de setembro de 1939 e o início do uso da energia nuclear, e o julgamento de Oppenheimer em 1953, quando a Comissão de Energia Atômica dos EUA formalizou as acusações contra ele. O peso desses eventos é imenso, não apenas pelo impacto global, mas pelo efeito que tiveram na vida pessoal e profissional de Oppenheimer. Ele, que desempenhou papel crucial no desfecho da Segunda Guerra Mundial com o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, passou seus últimos anos desgastado e desacreditado, vítima de campanhas difamatórias e de um profundo mal-entendido acerca de seu trabalho e intenções.

A morte de Oppenheimer, em 1967, aos 62 anos, pode ter sido causada por um câncer de laringe, resultado de anos de tabagismo, mas seu verdadeiro legado é mais profundo. Desgastado emocionalmente e incompreendido, sua trajetória final é um triste reflexo das pressões implacáveis do mundo moderno, onde os heróis, muitas vezes, são abatidos pelas mesmas forças que os colocam no topo.


Filme: Oppenheimer 
Direção: Christopher Nolan  
Ano: 2023 
Gênero: Drama/Suspense 
Nota: 9/10